Capela de Nossa Senhora da Estrela
Este fim-de-semana reparamos que começaram a ser executadas obras na capela de Boassas, estando a ser retirado o reboco exterior. Esperamos, sinceramente, que sejam apenas obras de "restauro" e que nada vá ser alterado do seu aspecto exterior. Sabemos bem da apetência actual pela "pedra à vista", que nada tem que ver com este tipo de edifícios, nem com a época em que foram construídos e que há anos, infelizmente destruiu parcialmente o interior. Muito estranhamos que não haja o devido acompanhamento por técnicos especializados tratando-se de uma obra com quase trezentos anos e que integra o rol do património da aldeia, a qual, recordamos, se encontra classificada no PDM como "de Valor Patrimonial" e também, recentemente, como "Aldeia de Portugal". Esperamos que não seja esta a "próxima vítima" e aproveitamos para falar um pouco sobre este edifício, deitando mão, mais uma vez ao "...Uma aldeia com história".
«A Capela de Nossa Senhora da Estrela localiza-se ao cimo da Arribada, junto às casas patrimoniais do Cubo e do Cerrado, coroando a zona mais antiga da povoação e rematando o largo principal, a Avenida Pinto Branco ou Largo da Capela (como é mais conhecido). Trata-se de uma capela modesta, de singela arquitectura chã ou plana, mas com algumas particularidades, ainda assim, dignas de nota.
Não é, seguramente, a capela original da aldeia, cujos vestígios subsistem, quanto a mim, sob a majestosa Casa do Cubo, uma vez que me parece de todo improvável que a aldeia não tivesse uma capela já em 1253, data em que D. Afonso III lhe outorgou a sua honrosa Carta de Foral. Esta é uma construção bem mais recente, edificada, segundo a inscrição na sua frontaria por sobre a porta principal, no ano de 1710.
A esta edificação refere-se o historiador M. Gonçalves da Costa da seguinte forma: “Na (capela) da Senhora da Estrela, em Boassas, deixou Timóteo Campelo, em testamento, um óbito de missas perpétuas às sextas-feiras e sábados, mas sem qualquer legado a favor da instituição. Supriu Francisco Botelho do Amaral, vinculando-lhe 200 mil réis a juros para a fábrica. A 11 de Julho de 1713, a cúria episcopal passou a licença para a celebração da missa, pagando o P.e João Godinho da Costa a chancelaria.” [1]
Trata-se de um templo de uma só nave, com capela-mor, arco triunfal e sacristia.
O altar maior, de modesta talha com motivos vegetalistas, pintada a branco e ouro, integra no seu retábulo uma delicada imagem de Nossa Senhora, em pedra de ançã. Adossados ao arco triunfal estão dois altares, revestidos em artística talha de traço barroco, que integram formosas imagens de S. Francisco de Assis e S. Sebastião. Possui ainda uma “Imagem de Nossa Senhora de Fátima benzida a 8 de Dezembro de 1981” e terá sido “restaurada em 1929”. [2]
Será ainda de salientar o curioso e peculiar pequeno coro, com acesso pelo exterior.
Sofreu recentemente obras de manutenção e aqui, lamentavelmente, este sofreu foi de facto doloroso, pois que as obras foram executadas sem qualquer critério ou orientação, tendo sido realizadas várias atrocidades, como por exemplo a eliminação do reboco das paredes, deixando a pedra à vista, contrariando a característica da época em que foi executada; a substituição do pavimento em soalho de madeira por outro de medíocres mosaicos cerâmicos vidrados e a eliminação das pinturas decorativas do tecto, subsistindo apenas a imagem central, horrivelmente desfigurada.
O exterior, felizmente mantém-se intacto, ou quase, não fosse o péssimo hábito que têm as pessoas de “adornar” o pequeno campanário que coroa a frontaria com a mais variada panóplia de trastes, que vão desde uma horrorosa cruz metálica com lâmpadas multicolores, até bandeiras e a uma parafernália incrível de altifalantes. Estes, assim que começam a debitar ruído, transformam aquele que deveria ser um local sagrado num autêntico “inferno”, capaz de enlouquecer o mais manso dos personagens bíblicos, afastando tudo e todos das suas imediações, mesmo os que a pretendam visitar.
“Xinfrim” à parte, a capela de Boassas, ou melhor a capela de Nossa Senhora da Estrela, destaca-se e sobressai, não pela sumptuosidade, riqueza ou grandiosidade, mas sim pela sua graciosidade despojada, pela escala, rigor e coerência das suas proporções e merece a pena, sem dúvida, ser visitada.
É, como comecei por referir, um exemplar digno da chamada arquitectura chã ou plana, cuja particularidade reside sobretudo no contraste entre os rugosos elementos de granito e a superfície lisa do reboco caiado. E aqui será também de salientar um outro aspecto também fortemente dissonante e negativo que é o rodapé negro que introduziram nas suas fachadas e que nada tem a ver com aquele tipo de edificação e com a sua época.
O elemento, no exterior, que mais realce adquire é, sem dúvida, o gracioso e proporcionado campanário. Este adorna a fachada principal, ao centro e é delicadamente esculpido em granito e encimado por uma cruz central e dois pequenos coruchéus, a fazer lembrar um pórtico de feição renascentista e constituindo uma opção muito curiosa e invulgar.
Os dois extremos da fachada são também ornamentados por dois coruchéus idênticos, mas de maiores proporções. Será ainda de referir as duas grandes cruzes de granito que ornamentam exteriormente as zonas do arco e da ábside na parte posterior do edifício, o que constitui também uma opção pouco frequente e invulgar. Todos os anos é costume realizar-se uma festividade em frente à capela em honra da Santa padroeira, Nossa Senhora da Estrela, em que a imagem é transportada em procissão.
Bibliografia consultada
[1] COSTA, M. Gonçalves da - História do Bispado e Cidade de Lamego, vol IV, págs. 374/375
[2] MONTEREY, Guido de - Terras ao Léu, Cinfães, pág. 292
Manuel da Cerveira Pinto
in "Boassas - Uma Aldeia com história", 2004
2 comentários:
Em relação a quem escolheu os "medíocres mosaicos cerâmicos vidrados" foi a minha mãe Maria Alice dos Santos Constante e outros membros de Boassas. O belo soalho que estava em "optimo estado" foi substituido para pior pensam alguns mas para quem tinha e tem a responsabilidade de cuidar e limpar a capela foi uma mais valia porque os mosaicos e a "passadeira" de granito são mais fáceis de limpar e cuidar. Eu não acho que esteja assim tão desfigurada a nossa Capela, mas também não sou uma avaliadora da arquitectura tradicional. Eu tenho orgulho e respeito pelo o que os meus pais e outros membros da nossa comunidade fizeram porque eles deram o que podiam e sabiam, que muito mais do que muitos algum dia fazerão.
Provavelmente o meu primeiro comentário não foi por mim correctamente inserido, assim sendo, volto a colocá-lo:
VÍTIMA", eu já tenho uma certa urticária com este nome será que tudo se resumo a vítimização. Eu gostaria de salientar que muito me entristece ver aqui retratado um hábito não muito nobre do povo português que é falar do que não se sabe. Era mais digno para este blog saber o que se vai fazer em concreto e depois comentar. Em relação a todas as obras mal efectuadas por várias entidades ao longo dos tempos como "a substituição do pavimento em soalho de madeira por outro de medíocres mosaicos cerâmicos vidrados" que por acaso foram obras efectuadas enquanto o meu pai Ângelo Teixeira fazia parte da Comissão Fabriqueira, não foi ele que escolheu os mosaicos mas empenhou-se em tentar melhorar a Capela. Eu não digo que todas as obras efectuadas tenham sido uma mais valia para a nossa Capela mas as pessoas que se empenharam deram o seu melhor, que é muito mais do que muita gente fez ao longo dos tempos. Eu estou nesta Aldeia a 20 anos, faz este natal 21 anos e sempre estive ligada à capela da Nossa Senhora da Estrela e sempre lhe prestei com tudo amor algum do meu tempo sendo catequista, fazendo parte do coro, entrando em todas as actividades e fazendo parte da Comissão de Limpezas. O Benfeitor que esta obra patrocina tem todo o meu apreço respeito e admiração porque as obras que se vão efectuar são um restauro o que significa que a apetência actual pela "pedra à vista" não se vai concretizar exceptuando um roda pé de pedra (granito) que vai ter em substituição do roda pé preto. As escadas laterais exteriores também vão ser restauradas. E provavelmente a capela irá ter água da companhia porque para quem não sabe e pretenda comentar tal facto, acartar água das fontes mais próximas que são a do "cruzeiro" ou quando esta não dá que é uma constante no verão a do "casal" é uma tarefa árdua e leva imenso tempo. Eu faço parte da APOBO mas como tenho os meus próprios princípios e ideais não concordo com todos os artigos. E digo falar do mal dos feitos dos outros sem apresentar os seus feitos é simples. EU gosto muito de Boassas e sou muito devota a Nossa Senhora Da Estrela e sei que as obras são para engrandecer a Capela e todos aqueles que são devotos à Nossa Senhora da Estrela. E a Diocese de Lamego que é a proprietária da capela autorizou as obras para melhorar Boassas e não para destruir o património.
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