terça-feira, setembro 08, 2009

Quinta do Paço da Serrana...a vergonha!!!!


Cerca de duas décadas de domínio municipal foram suficientes para destruir um património inestimável, construído ao longo de séculos. Obviamente que o "azar" da Quinta do Paço não foi o incêndio que aí deflagrou ontem, mas sim o de ter passado a pertencer a uma autarquia acéfala, laxista; insensível e irresponsável... Uma instituição pública onde a palavra cultura não cabe sequer no vocabulário. Em cerca de duas décadas a Câmara de Cinfães nada fez para que aquele espaço fosse mantido e preservado. Pelo contrário, permitiu a sua vandalização e destruição, nada fazendo para evitar o que agora sucedeu, embora os alertas tenham sido lançados incessantemente...
Sei do que falo! Senão vejamos:
1. Fui talvez a primeira pessoa a escrever sobre as possibilidades da quinta no já longínquo ano de 1985, ainda a propriedade pertencia à Família Serpa Pinto.
2. No ano seguinte publiquei um novo artigo onde alertava para a degradação de todo aquele património (mal sabendo eu que seria muito melhor que as coisas se mantivessem como estavam...).
3. Em 1995, participei num concurso público de arquitectura, lançado pela câmara que foi de tal forma boicotado que, até hoje, não foi publicado o resultado. A minha era a única proposta que cumpria todos os requisitos... E a própria vice-presidente (que fazia parte do júri) afirmou publicamente, em determinada altura, que a minha havia sido a proposta escolhida!...
4. Posteriormente, aquando do 1.º Programa Leader para a região, em que foi criado o "Centro Rural de Ribadouro", propus o aproveitamento e adaptação da Quinta do Paço para os fins que estavam previstos no concurso camarário e ainda como pólo de residência e atelier de artistas, etc... A ideia acabaria por não ser sequer aproveitada pela câmara que acabou por perder o dinheiro para o vizinho concelho de Baião!...
5. Mais recentemente, a Associação Por Boassas (APOBO) propôs a classificação de todo o maciço arbóreo fosse classificado como Património de Interesse Público (parte já era Reserva Ecológica). Embora o parecer da Direcção Geral das Florestas tenha sido favorável (que publicamos aqui parcialmente), o processo nunca teve um desfecho porque a autarquia não se mostrou interessada na classificação.
6. Nesse mesmo documento a DGF propunha-se identificar as espécies arbóreas e arbustivas e também à própria limpeza dos espaço, o que, obviamente nunca veio a suceder!...
7. Em reunião com o próprio presidente da autarquia, apelando à sensibilidade e necessidade de classificação de todo aquele espaço, a resposta não se fez esperar: "a classificação poderia ser contrária aos interesses CONSTRUTIVOS dos projectos em curso" (!!!!!)....
8. Alertei também para a necessidade da elaboração de um plano feito pela própria autarquia para ser usado como fio condutor de qualquer projecto que ali pudesse ser feito, tendo-me sido dito, sintomaticamente, que: (sic) "não está no âmbito da câmara esse tipo de acções" (!!!!!)...
9. Posteriormente, falei ainda com a presidência sobre a possibilidade de uma parceria (com grandes possibilidades de financiamento) internacional com a Holanda, tendo-me feito acompanhar para uma reunião pelo responsável das "Villages of Tradition" e gestor do programa "Leader" daquele país o Sr. Frits Schuitemaker. A ideia era uma parceria internacional, já que na aldeia holandesa de Frits se estava a construir um museu dedicado a um explorador local chamado Abel Tasman (o descobridor da Tasmânia). O desinteresse demonstrado foi de tal modo constrangedor que a ideia praticamente morreu logo ali.
10. Devo ser das pessoas que melhor conhece o espaço e a que mais elementos possui sobre a quinta (possuo o levantamento de todas as construções, com fichas identificativas e descriminativas de materiais, estado de conservação, localização, etc.; levantamento fotográfico de todo o património construído; plantas de zonamento; de áreas agrícolas e florestais; rede e estruturas hídricas; etc...). Apesar disso NUNCA me foi pedida qualquer informação, parecer, ou opinião sobre aquele espaço!

Por tudo isto, hoje, e pela primeira vez, sinto vergonha de ter nascido em Cinfães!

Manuel da Cerveira Pinto
(Professor Universitário, Mestre Arquitecto, doutorando em arquitectura na Universidade de Valladolid e vice director do Jornal Miradouro)

segunda-feira, setembro 07, 2009

O "AZAR" DA QUINTA DO PAÇO...


Há quatro anos lamentávamos aqui a destruição parcial da Quinta do Paço da Serrana por um incêndio de grandes dimensões, que apesar de tudo não havia consumido a grande floresta. Hoje acabou de arder o que então remanesceu. O concelho de Cinfães perdeu o seu maior símbolo cultural e natural e também um dos espaços mais importantes de bio-diversidade e valor paisagístico de todo o distrito de Viseu. Claro que foi apenas "azar". Em quatro anos todas as medidas e mais algumas foram tomadas no sentido da preservação daquele espaço, para que não voltasse a suceder o mesmo. Por exemplo, a limpeza constante e assídua da floresta, para o qual contribuiu a classificação de todo o conjunto como área protegida pela Direcção Geral das Florestas, proposta pela APOBO (Associação Por Boassas) prontamente apoiada pela Câmara Municipal de Cinfães. Infelizmente "o azar" não permitiu sequer que fossem identificadas algumas das espécies assinaladas pelos técnicos da DGF... Agora será já impossível. Claro que é o azar. Pois, como dizíamos atrás, todas as medidas e mais algumas foram tomadas, até porque o espaço foi cedido a uma empresa para exploração turística, pelo que não só as autarquias, como os próprios investidores estavam plenamente empenhados na protecção de toda aquela riqueza. Vejamos, por exemplo, as medidas de prevenção e vigilância eram exemplares (havendo rondas pela floresta de guardas 24h por dia) e os acessos foram não só melhorados, como criados alguns novos, de forma a possibiltar o ataque rápido pelos bombeiros a partir da parte inferior da quinta. Também os pontos de água existentes na quinta estavam todos operacionais, para além do próprio sistema de distribuição de bocas de água ao longo de todo aquele espaço. Até nos passeios a Fátima proporcionados pela CMC aos idosos do concelho não tem sido descurada a salvaguarda da Quinta do Paço, sendo-lhes sempre lembrada a importância de uma "rezinha" para a preservação de todo aquele património. Por último, não nos esqueçamos do investimento em termos humanos e materiais com que os próprios bombeiros têm sido dotados no concelho, em que será de salientar o esforço enorme e que implicou o corte orçamental em 300.000 € de duas festas de S. João, que foi a aquisição de um helicóptero de ataque a incêndios, plenamente justificado pelo facto de este ser um concelho com uma área florestal considerável. Mas, enfim, o "azar" tem destas coisas e quando o destino assim o quer não há medidas, nem rezinhas, que nos valham... Mas ainda irão aí aparecer más-línguas a dizer que muito mais poderia ter sido feito, como se o destino pudesse ser contrariado. Enfim... os do costume!

(A fotografia que ilustra este artigo é da autoria do ceramista espanhol Fernando Malo)

quarta-feira, setembro 02, 2009

A poluição em Boassas

Não deixa de ser curioso como à medida que a aldeia se esvazia de pessoas e movimento a poluição aumenta na razão inversa. Será apenas coincidência?...Não, de todo! Não creio!... É uma razão de causa e efeito. O saneamento, para meia dúzia de pessoas, não funciona, as fossas (chamadas pomposamente pelo poder local de ETAR's - Estações de Tratamentos de Águas Residuais) são pura e simplesmente obsoletas, são focos de infecções; conspurcam os terrenos e o ar é nauseabundo e irrespirável. A poluição sonora é outra das catástrofes que começa pelas cornetas vociferantes colocadas no topo da igreja, que nos inferniza o juízo de meia em meia hora, que num desrespeito anti-cristão agride os ouvidos e o cérebro de qualquer transeunte e sobretudo de quem nas imediações vive... Durante os meses de Abril a Agosto e a propósito da festa, todos os domingos, durante a tarde é impossível estar no centro de Boassas, tal é o barulho causado pela música (!!!????) tonitruante que vociferam as cornetas encarrapitadas no campanário da capela. Outro flagelo é a poluição visual e luminosa provocada pela proliferação de "maisons" de pessoas que vindo da cidade passar uns dias no campo parece terem medo do escuro... Enfim, contributos para o despovoamento e desertificação daquela que é já uma das zonas mais pobres do país...