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segunda-feira, janeiro 09, 2012

Borboleta-azul ganha reserva protegida na Serra de Montemuro



Uma borboleta rara no nosso país e protegida a nível europeu, a borboleta azul, tem agora uma reserva em Portugal. A Quercus adquiriu um terreno de 3.500 metros quadrados, em Castro Daire, para preservar esta espécie que conta com a colaboração das formigas para sobreviver.

A nova micro-reserva está situada na Serra de Montemuro, no norte do país, onde foi recentemente identificada uma população da espécie, cuja ocorrência é muito rara em Portugal, sendo considerada uma espécie quase ameaçada de extinção.

A estratégia de sobrevivência da borboleta-azul é, talvez, a mais surpreendente de todas as 135 espécies de borboletas diurnas conhecidas em Portugal, segundo explica a Quercus em comunicado.

Quando os ovos destas borboletas eclodem dão origem a minúsculas lagartas que vão consumindo a cápsula floral durante duas ou três semanas. Depois, as lagartas deixam-se cair ao solo e esperam ser adoptadas por formigas do género Myrmica, que as irão transportar até ao formigueiro, pensando tratar-se de larvas de formiga perdidas.

Uma vez no formigueiro, as lagartas da borboleta-azul vão consumindo centenas de larvas de formiga, dando em troca uma substância açucarada ao formigueiro.

No ano seguinte ao da adopção, no Verão, dá-se o processo de transformação em crisálida, sendo que uma semana depois eclode a borboleta, que rapidamente procura uma saída do formigueiro, pois a química que iludiu as formigas deixa de funcionar e rapidamente passa a ser considerada um inimigo.

Os urzais-tojais e os cervunais, prioritários para a conservação da biodiversidade por parte da União Europeia, são os únicos habitats onde se encontra esta borboleta.

Em Portugal apenas são conhecidas populações da espécie no Parque Natural do Alvão e na Serra de Montemuro. Esta população da Serra de Montemuro, que vai agora ser objeto de proteção, foi descoberta pelo TAGIS – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, organização com a qual a Quercus tem um protocolo de cooperação.

[Notícia sugerida por Vítor Fernandes e Maria de Sousa]


(In Boletim "Boas Notícias")

sexta-feira, setembro 17, 2010

The Smiths - Meat is murder


Peço desculpa pela fraca qualidade da imagem e do som, mas era o único vídeo disponível com a letra original, e em português, embora do Brasil. Um grande passo para sustentabilidade, para a ecologia, para a saúde mental e pública!....Ser vegetariano é ser mais humano! Obrigado Morrissey!

quarta-feira, abril 29, 2009

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Os animais salvam o planeta!

Uma série de episódios de animação que ajuda crianças e adultos a fazer pequenas coisas para ajudar a preservar o meio ambiente... Muito bem feito e com muito humor.

quinta-feira, setembro 04, 2008

"A História das Coisas"... ou o mundo em extinção!

Um vídeo muito "didático" que, de forma simples e entre muitas outras coisas, conta como a sociedade ocidental industrializada vive à custa dos países mais pobres... (Para visualizar, "clicar" no título ou aqui)
(Com um agradecimento ao "Espaço Centoecatorze")

terça-feira, julho 29, 2008

As "ameaças" sobre o Bestança


O rio Bestança continua a ser alvo da atenção dos pretensos "desenvolvedores" do país. Depois de encherem a Serra de Montemouro de "ventoinhas", de fazerem no Douro uma das maiores barragens do país (Carrapatelo), de construírem mini-hídricas nos rios Ardena e Cabrum, continuam a insistir em fazer barragens no Bestança. Cinfães é, seguramente, um dos concelhos do país que mais energia produz (e provavelmente dos que menos consome), no entanto a energia não é aí mais barata, nem consta que os habitantes tenham lucrado muito com estes investimentos, já que continua a ser um dos menos desenvolvidos do país...

terça-feira, julho 22, 2008

O Mito da Energia Nuclear

"Nos últimos anos tem surgido alguma discussão em torna da possibilidade de construir em Portugal uma central nuclear. Frequentemente, nesta discussão, o nuclear tem sido apresentado como sendo uma energia limpa e barata, ideias que não correspondem à realidade. Na verdade, considerando todos os custos inerentes ao ciclo de vida de uma central, a energia nuclear é muito mais cara do que as outras formas de produção de electricidade, especialmente se se considerarem os custos do tratamento dos resíduos por centenas e mesmo milhares de anos. Contrariamente ao que muitas vezes é referido, a produção de energia nuclear não é isenta em termos de emissões de gases de efeito de estufa responsáveis pelas alterações climáticas. A sua construção é uma importante fonte de emissões, mas principalmente a exploração do urânio e também o transporte dos resíduos para processamento ou armazenagem, acabam por contribuir significativamente para este balanço.
Por outro lado, para além do problema da longevidade dos resíduos nucleares (dezenas a centenas de milhar de anos), esta fonte de energia eléctrica não é renovável e prevê-se que as reservas de urânio não durem mais do que algumas décadas. Acresce que a exploração de urânio representa graves problemas ambientais, como o testemunham o passivo ambiental deixado por esta actividade em Portugal."

In "Boletim Electrónico da Quercus n.º 114" de 22-07-2008

Sobre este tema ver também no blogue "Quinta do Sargaçal" o artigo "Manobra nuclear"

terça-feira, janeiro 22, 2008

Jornadas Quercus de Arquitectura sustentável

O Núcleo Regional do Porto da Quercus está a organizar, para os dias 23 de Fevereiro, 29 de Março, 19 de Abril e 24 de Maio no Museu Nacional Soares dos Reis, as “Jornadas Quercus de Arquitectura Sustentável”.
Para mais informações basta "clicar" aqui, ou na palavra sublinhada.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Aprender em Curitiba

(Uma experiência urbana no brasileiro estado do Paraná, que faz fronteira com o Paraguai e com a Argentina)

Curitiba, capital do Estado do Paraná, tem quase um milhão e meio de habitantes. A sua situação geo-estratégica coloca-a num lugar privilegiado.
O Estado do Paraná faz fronteira com o Paraguai e com a Argentina.
Para além de ter uma boa abertura fronteiriça com esses países, Curitiba encontra-se numa situação específica onde, num raio de 1300 Km, estão situados os maiores pólos económicos do Brasil, ficando assim situada no centro da região mais industrializada da América do Sul. Mas, ao mesmo tempo, o Estado do Paraná confina com uma das maiores e mais belas reservas naturais: as espectaculares cataratas de Iguazú.
A experiência de Curitiba nada tem a ver com uma "utopia" ecológica desligada da envolvente social brasileira. Não é portanto um "modelo" fechado que vive por exclusão esquizofrénica da restante realidade brasileira.Contudo, contendo no seio da sociedade-cidade todos os contrastes e contradições da sociedade brasileira (a pobreza e a opulência) assiste-se também a uma realidade singular que não deixa de nos surpreender. Aqui, nesta experiência urbana, existe uma estratégia envolvente que sem rigidez nem purismos vai entrelaçando desejos e realidades, vai despoletando a participação das populações num movimento de pedagogia social, em que a utopia se concretiza e a realidade vivida tem referências românticas dum idealismo cívico e ecológico que o pessimismo conservador julgava impossível.
Duma forma sintética julgo que o segredo desta experiência reside no facto de se ligarem aspirações sociais aos interesses individuais e esses mesmos interesses às aspirações, graças a uma mobilização contínua na solução dos problemas, gerando-se pela prática a consciência acrescida das populações e do seu papel na transformação e mudança de vida.
O paradigma exemplar desta pedagogia social pode revelar-se em algumas das actuações que referiremos em seguida:

1. Reciclagem dos lixos
A campanha "lixo que não é lixo - lixo que é riqueza" promoveu, à escala do bairro, uma mobilização popular forte. Os mais desfavorecidos, com o apoio de carrinhos distribuídos pela municipalidade, transformaram-se nos "catadores de papel" e descobriam que o lixo era assim moeda de troca no "câmbio verde" organizado pelo município.
O "camião verde" apanhava, em pontos estratégicos, várias recolhas de bairro efectuadas pelos populares e "pagava" o lixo com os certificados que permitiam a troca por alimentos, livros, bilhetes culturais, brinquedos, etc. Nascia também, neste contacto entre a população e a instituição camarária, uma nova realidade: a recolha do papel em Curitiba salvava 1516 árvores por dia.

2. Apoio aos excluídos
A progressiva consciência das populações carenciadas desenvolveu-se também com a experiência da "Fazenda Solidariedade" - quinta agrícola de Campo Magro, onde se faz a reintegração social de desempregados e se promove, graças aos produtos rurais que aí se produzem, a elaboração de uma sopa distribuída por um autocarro refeitório que atende cerca de 92.212 pessoas carenciadas, por ano.

3. 0 Jardim e o Museu Botânico de Curitiba
Para além dos especialistas que investigam e coordenam os trabalhos notáveis do jardim botânico, são também convidadas escolas para o trabalho no jardim, com a orientação de professores. Aí se educa o amor pela terra e a formação ecológica das crianças e jovens.Uma das actuações no jardim botânico foi a criação de um jardim medicinal que propiciou a plantação de espécies fitoterápicas em pequenos vasos que constituem viveiros didácticos que apoiam as "farmácias" caseiras e a "farmácia verde" em conexão com os serviços de saúde.

4. A Universidade Livre do Meio Ambiente
Reciclando postes de eucalipto, que anteriormente serviam de postes telefónicos, construiu-se um equipamento em madeira que serve de logística para a universidade livre, integrada num parque ecológico. Graças ao "design" criativo do arquitecto Domingos Bongestabes, foi possível gerar-se, com materiais pobres, uma interessante estrutura arquitectónica que se integra maravilhosamente no "sítio".
Neste local funciona uma organização não governamental, a Universidade Livre do Meio Ambiente, cuja iniciativa tem sido essencial na investigação ecológica e na formação de quadros promotores do eco-desenvolvimento.
Não se pode deixar também de falar de várias outras experiências sociais, que contribuem para este envolvimento pedagógico entre a municipalidade, as instituições, as associações não governamentais e a sociedade civil: as Feiras Livres de Agricultura, que aproximam os produtores agrícolas dos consumidores; a Feira Verde, onde se comercializam produtos naturais, sem químicos; e o "Shopping Popular", cooperativa de consumo. São iniciativas em que a vida económica se manifesta numa óptica de solidariedade, procurando não apenas respostas quantitativas mas enunciando estratégias qualitativas para um modo alternativo de sociedade. O "Farol do Saber" é também mais um exemplo para melhor se entender este processo que se constrói todos os dias no seio de clivagens sociais antagónicas, entre esperanças e ilusões, num desafio permanente à recuperação estagnante e à mudança. O "Farol do Saber" está a generalizar-se pelos diferentes bairros. É um centro polivalente que funciona como Escola/Biblioteca/Sala de convívio cívico e centro da polícia municipal.
Trata-se de uma arquitectura emblemática. Referenciando-se ao "farol de Alexandria", pretende ganhar visibilidade na cidade. Implantaram-se já alguns desses edifícios modelos em vários bairros. Do lanternim cimeiro da torre, durante a noite, espelham-se os clarões luminosos, assinalando o local da cultura, do encontro cívico e da segurança social.
São estas algumas das sementes desta experiência social. Acompanham e catalizam experiências espaciais.
Na cidade, surgem zonas verdes, parques, redes de transportes públicos que pretendem em comodidade e serviço, dissuadir o tráfego automóvel no centro da cidade. Vão surgindo as propostas de concretização e melhoramento do plano director.
Fizeram-se saneamentos especiais, limparam-se ribeiros e criaram-se novos loteamentos com casas sociais, numa grande diversidade de linguagens e materiais. Está-se a promover, depois do bairro novo e no seguimento da rua das tecnologias, a cidade verde ou a eco-cidade que, distendendo-se ao longo da periferia de Curitiba, acumula experiência, multiplica dinâmicas sociais e aponta para novos modelos de espaços públicos, energias renováveis e sistemas integrados de transportes. Curitiba não é um paraíso, nem um modelo acabado onde se eternizaram ideais imutáveis de uma utopia sem falhas. Curitiba é um processo. Mas um processo onde todos os dias se tentam ganhar mais actores à construção de uma cidade onde se experimentam e inovam mudanças numa sociedade de contradições e antagonismos.

A. Jacinto Rodrigues, professor catedrático da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
(Artigo publicado no Jornal "a Página", ano 8, nº 76, Janeiro 1999, p. 16.)

terça-feira, outubro 11, 2005

O Desenvolvimento Ecologicamente Sustentado...

Alternativa ao Capitalismo na Era da Globalização

Por: Jacinto Rodrigues

Resumo
Não é possível construir uma sociedade de justiça social sem mudança do modelo territorial energético, baseado na sustentabilidade ecológica.
A ecologia, como fundamento substantivo da política e da técnica, torna-se essencial para a alternativa ao paradigma do capitalismo na fase da globalização.

Palavras-chave:

Desenvolvimento ecologicamente sustentado
Ecodesenvolvimento
Eco-ciência planetária


Mesmo para o cidadão comum, de hoje, é uma evidência constatar a evolução do capitalismo e reconhecer a especificidade desta etapa que se designa de globalização.
Porém, a questão essencial é saber se a natureza do sistema capitalista mudou.
a) Será que desapareceram a exploração, dominação e as injustiças sociais que advêm desse modelo social?
B) Encontrou este modelo capitalista um processo de concertação dos seus antagonismos, inerentes ao seu processo de funcionamento?
c) Que ocorreu em relação à capacidade de resposta dos grupos sociais explorados e dominados, aos novos processos de economia transnacionalizada na sua nova fase do capitalismo financeiro, “financiarização”, de cibernetização tecnológica, “informatização” e alargamento manipulatório “mediatização”? (AMIN 1997))
No estado actual, a etapa da globalização alargou a economia de mercado para uma fase cada vez mais gravosa para com o equilíbrio da biosfera. O valor de uso dos produtos tornou-se presa de interesses financeiros dominantes. O oligopolismo, ou seja, o capital financeiro sobrepôs-se à lógica de investimentos produtivos. A geopolítica do capital transnacionalizado impôs modelos sociais/militares e tecnológicos mundializados.
A generalização de uma tecnologia que produza um antagonismo crescente em relação à biosfera.
Esse antagonismo crescente revela-se essencialmente pelo facto de que este modelo tecnológico funciona como uma predacção exterminadora dos bens planetários criando simultaneamente resíduos superiores à reciclagem de que dispõe a biosfera.
Os eco-sistemas são violentados pelo alargamento duma tecnologia produtora de esgotamento energético e matérias-primas, ao mesmo tempo que gera lixos tóxicos.
A generalização desse antagonismo capitalismo versus natureza, acompanha e agrava outros antagonismos essenciais. Cresce o fosso ente os grupos cada vez mais reduzidos, detentores do meios de dominação, produção e alienação e o resto da sociedade que, por sua vez, se decompõe em grupos sociais integrados e outros excluídos.
Cresce o fosso entre regiões onde o crescimentos se realizou à custa da periferia despojada dos seus próprios meios naturais de subsistência.
Por outro lado, ocorrem antagonismos também entre os próprios detentores do capital porque a concentração e a concorrência inerente ao modelo mercantil acentua rivalidades em torno da conquista do poder dominante. A concentração faz-se através do aniquilamento dos mais fracos que têm de se sujeitar a essa geo-estratégia de concentração.
O modelo tecnológico, aparece com uma lógica de produtivismo quantitativo que insinua um progresso social. A tecno-ciência mecanicista/positivista (sem uma base ecológica e assente na energia fóssil e na poluição) constitui a trama essencial da produção. Com efeito, dos transportes à agro-indústria, o modelo tecno-científico hegemoniza o tipo de crescimento da economia capitalista.
O sistema de ensino do Estado, privado ou empresarial, constitui um pilar de reprodução do próprio sistema. A socialização cultural é substituída pela institucionalização escolar. Esses referentes paradigmáticos interferiram na estrutura cognitiva, criando e reflectindo uma concepção de ciência e de cultura. Os “epistemes” são produzidos e reproduzidos nesta “grelha de interpretação”(WALLACE 1963) que interessem a manutenção social.
A organização territorial consolida a integração social de maiorias e exclusão de minorias não adaptativas.
A concentração urbana caracteriza esse habitat alheado do eco-sistema. Mas a organização territorial desta fase de globalização tem gerado dispositivos topológicos (FOUCAULT, 1976)) que constituem formas de integração e de dominação cada vez mais sofisticadas. A maquilhagem formal, a espectacularidade das edificações, escondem adestramentos comportamentais das populações e marcam com geo-estratégias complexas, a reprodução alargada da força de trabalho, o domínio manipulatório e/ou compulsivo de hábitos (BOURDIEU-PASSERON, 1964)), de formas de vida e de consumo.
Durante o processo da mundialização da economia capitalista, através das formas coloniais ou neo-coloniais, as sociedades tradicionais de economia de subsistência apresentaram, e apresentam ainda hoje, resistências à imposição desse modelo capitalista, social, tecnológico, territorial e educativo.
Essas sociedades tradicionais não têm actividades puramente económicas. A caça e a agricultura são actividades familiares e comunitárias. Como refere Polanyi,(POLANYI, 1980)) os princípios dessas sociedades vernaculares são formas de reciprocidade que estabelecem um tecido de obrigações mútuas estreitando os laços entre os membros da comunidade. (Goldsmith, 1995)
A tecnologia e o habitat das sociedades vernaculares constituem as formas de estar duma sociedade em busca da auto-suficiência, que obedece às imposições do nicho ecológico em que a comunidade se insere
O processo educativo na sociedade, confunde-se com a socialização, vigorando o processo de adaptação à comunidade e ao eco-sistema de que são dependentes.
O processo colonial e neo-colonial instaura-se essencialmente pelo sistema tecnológico e pelos novos dispositivos territoriais. São estes elementos fortes que facilitam a “pilhagem” e produzem a catástrofe das populações nativas.
O habitat e a tecnologia tradicionais, não produziam esgotamento dos bens naturais. Os detritos eram reciclados pelo ecosistema local.
A transmissão de doenças era menos fatal nas comunidades isoladas do que em populações concentradas e em situações degradadas das aglomerações urbanas.
As relações de economia de mercado vieram acelerar a desintegração dos ecosistemas pois os valor de uso ao ser substituído por valor de troca, provocou a delapidação das florestas, aumentou a desertificação e intensificou processos de concorrência que levaram a conflitos étnicos e às guerras.
Ao estabelecermos estas constatações sobre as sociedades vernaculares não queremos, contudo, considerá-las isentas de limitações e portanto não é nosso ensejo apresentá-las como o paradigma alternativo ao modelo técnico-científico do capitalismo.
As ideologias colonial e neo-colonial esforçaram-se em tecer juízos de valor sobre as sociedades vernaculares, querendo ddemonstrar a supremacia do modelo cultural e civilizacional dos países de economia dominante. Foi o pretexto para legitimarem a colonização. Foi e é o discurso ideológico dominante.
Quisemos caracterizar a situação das sociedades vernaculares mostrando como as sociedades colonizadoras, contribuíram para o desequilíbrio entre o homem e a biosfera.
O que se pretende nesta comunicação é formular uma decifração ecológica dos paradigmas entre essas sociedades, que ultrapasse a mera análise “económica”. Por isso formular uma alternativa significa ultrapassar os quadros referenciais do paradigma científico e moderno. Significa também ultrapassar antigos paradigmas em que a sujeição da humanidade ao envolvimento ecosistémico era quase total.
Ultrapassar a atitude destruidora do modelo capitalista e ultrapassar a atitude adaptativa do modelo de sociedade tradicional é o desafio que se põe para a formulação dum paradigma futurante.
Entre destruição e sujeição existe a possibilidade de uma sociedade capaz de integrar os ecosistemas de um modo activo, de maneira a tornar mais conscientes as relações dos homens com os seres vivos e com o biótopo.
O alargamento da consciência planetária, o aparecimento de propostas ecotécnicas (energias renováveis e uma produção com resíduos recicláveis) e ainda o surgimento das novas formas de organização territorial ecologicamente sustentada, permitem apontar como possível, esta “utopia” social, baseada no desenvolvimento ecologicamente sustentado.
Para isso há que encarar as soluções para os antagonismos sociais mas também formular, simultaneamente, respostas às conflitualidades na biocenose e entre a biocenose e o biótopo.
Não existem portanto, soluções político-económicas em estrito senso. Política e economia enquadram-se numa eco-política mais geral, como seja a gestão do próprio planeta. Em última instância é de uma eco-sofia em processo a que teremos de recorrer para esta hipótese alternativa de paradigma.
A história da humanidade aparece apenas como um processo parcelar duma mais vasta aventura planetária. No entanto, para a humanidade, as experiências já vividas nos diferentes modos de produção, nos diversos complexos tecnológicos e energéticos, nos diversos paradigmas político-filosóficos, permitem experiência e teoria para o desenvolvimento futuro.
As aspirações por uma sociedade mais justa e solidária, ficaram assinaladas ao longo da história, por grandes movimentos de libertação. Estes movimentos sociais, só de uma forma vaga e às vezes paradoxal, referenciaram a problemática ecológica. Essas aspirações confundiram-se, umas vezes, com o mimetismo passivo à mãe terra, outras vezes, com o grito Prometaico, portador da sociedade industrial. Outras vezes ainda, ao contrário, orientaram-se para uma sabotagem do surto tecno-científico do sistema fabril.
Com o advento da teoria ecológica, reformulam-se os quadros da ciência positivista e das ideologias sociais. Reencontramos proximidades entre a geo-cosmogonia mágica nativista e as revelações duma complexidade holística da teoria ecológica. Mas há diferenças qualitativas no alargamento da consciência planetária e na capacidade de controlo da humanidade para o equilíbrio ou desequilíbrio entre a organização social e a biosfera.
Se, através da tecnociência se conseguiram autênticos massacres na biosfera, criando a poluição generalizada, a devastação das florestas, a desertificação dos solos, a contaminação das águas, a partir da investigação eco-técnica é possível a produção de protótipos de energias renováveis que não esgotem os bens naturais nem poluam o planeta.
A evolução do conhecimento nas ciências do território, permite a implantação de novos habitats integrados no ecosistema.
O habitat, território, desenvolvimento, bioagricultura, ecotécnica, produção e reciclagem, são corolários sistémicos para um desenvolvimento ecologicamente sustentado.
É nesta configuração territorial e com estes novos dispositivos eco-tecnológicos que se podem propiciar novos comportamentos e atitudes solidárias mais consentâneas com as aspirações de justiça social.
Estes lugares matriciais podem assim, facilitar uma socialização solidária, uma eco-territorialização e uma eco-técnica imprescindíveis para a concretização desta utopia realizável.
Esta utopia não é um “modelo”. É um processo de mudança alternativa à sociedade tradicional de subsistência e à sociedade de globalização do capitalismo neo-liberal.
No terreno prático, o que se pretende, neste artigo, é defender o eco-desenvolvimento (SACHS, 1995) como alternativa para qualquer das sociedades. Qualquer que seja a etapa de crescimento, terá que ter uma opção tecnológica e territorial ecologicamente sustentável que possa auferir experiência prática, teórica e científica da humanidade.
As sociedades vernaculares ou tradicionais, têm uma proximidade material das preocupações ecológicas. Mas, ao mesmo tempo, encontram-se longe das opções reflexivas que podem garantir pela eco-técnica actual, uma melhoria das tecnologias apropriáveis, tradicionais. Contudo, nas sociedades do capitalismo global, será necessária a reconversão da tecnociência à ecotécnica. Terá que surgir uma “medicina planetária” (LOVELLOCK, 1998) capaz de curar as mazelas do crescimento produtivista.
Cresceram os perigos gerados pelo modelo de crescimento. A vida quotidiana dos cidadãos é cada vez mais marcada pelos desastres ecológicos, quer sejam alimentares quer sejam climatéricos.
Há cada vez mais movimentos que tomam consciência planetária desses perigos e mais claramente surgem alternativas concretas no domínio da eco-técnica, da organização territorial e do modo de vida. São experiências exemplares que tendem a multiplicar-se.
Novas formas organizativas, como redes não hierarquizadas onde a unidade se estabelece pelo direito à diferença, despontam em todos os países. Da federação destas organizações e da participação duma “ciência cidadã” (IRWIN 1998) surgem já expressões dum internacionalismo solidário no desenvolvimento ecologicamente sustentado, visível em Seatle e Porto Alegre.

Jacinto Rodrigues
(professor catedrático da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto)

Referências bibliográficas
(1) Amin, Samir, “Imperialismo e Desenvolvimento Desigual”, 1998, Ed. Ulmeiro
“Eurocentrismo”, 1999, Ed. Dinossauro
“Desafios da Mundialização”, 2001, Ed. Dinossauro
(2) Bourdieu-Passeron, “Les Heretiers”, 1964, Ed. Minuit, Paris
(3) Foucault, Michel, “La gouvernementalité” in « Magazine Litteraire », nº 269, 1998
«Surveiller et Punir», 1976, Ed. Gallimard, Paris
(4) Goldsmith, Edouard “Desafio ecológico”, 1995, Ed. Inst. Piaget
(5) Irwin, Alane, “Ciência Cidadã”, 1998, Ed. Inst. Piaget
(6) Lovellock, James, “Ciência para a Terra”, 1998, Ed. Terramar
(7) Polanyi, K. “The Great Transformation”, 1980, N.Y.
(8) Sachs, Ignacy, “Norte-Sul: Confronto ou Cooperação?” in “Estado do Ambiente no Mundo”, 1995, Ed. Inst. Piaget
(9) Wallace, A.F.C. “Culture and Personality”, 1963, Ed. Rondon House, N.Y.

(Artigo publicado no Jornal MiraDouro n.º 1471, de 24 de Setembro de 2004)