quarta-feira, novembro 30, 2005

Mais uma vez Cinfães é notícia pelos piores motivos...

Mais um brilhante (e oportuno) artigo de JRF, no seu Sargaçal, em que se dá conta de notícia sobre Cinfães vinda recentemente a lume no Jornal de Notícias. Retrata a situação calamitosa do interior do país, cada vez mais assimétrico relativamente ao litoral em que o caso de Cinfães é dos mais gritantes nos tempos que correm. Nada que "Planos Tecnológicos" e outras poeirentas núvens, lançadas por megalómanos "parques eólicos" consigam dissipar da visão dos habitantes mais atentos deste "mundo perdido" que é o rural. Este aspecto, do despovoamento e da fuga das populações do interior para o litoral foi, inclusive, um dos motivos pelo qual nasceu a APOBO. O citado artigo chama-se "No interior, o Outono veio para ficar" e é de leitura urgente e obrigatória.

segunda-feira, novembro 28, 2005

«Quem conta um conto...»


Variadas vezes temos visto, nos últimos tempos, em publicações de vária índole, referências à aldeia de Boassas como sendo a "2.ª Aldeia Mais Portuguesa de Portugal". Ora como não pretendemos ser "donos" do que nos não pertence, nem queremos ter louros que se sustentem em falsas verdades, teremos que providenciar o esclarecimento que se impõe acerca deste assunto. É que se a publicação de tais erros em opúsculos de divulgação turística, como o que lançou a Câmara Municipal de Cinfães em 2003 (Cinfães, Roteiro Turístico), são apenas lamentáveis e não têm repercussão, outros , manifestamente já não serão tão aceitáveis, como por exemplo nos "sites" "Portal Turístico do Douro" e SCETAD-"Espigueiro" (também da responsabilidade da Câmara Municipal de Cinfães); ou ainda no "site" da ADVBestança (e ficamo-nos apenas pela "internet" para não ferir a susceptibilidade de supostas "honrosas" publicações e trabalhos académicos). Abreviando, uma vez que seria fastidioso e dispiciendo enumerar agora todos os escritos onde vamos encontrando a mesma torpe afirmação, vamos então tentar explicar o que realmente terá sucedido, deitando mão, como vem sendo hábito, ao "Uma Aldeia Com História". Assim:

«Um dos momentos mais altos da história da povoação de Boassas foi, sem dúvida, a sua participação em 1938, no concurso “A aldeia mais portuguesa de Portugal”. No Largo da Capela ou Avenida Pinto Branco, em frente à Casa do Cerrado, ainda hoje se pode ver uma lápide comemorativa da efeméride, com a seguinte singela inscrição - “VIVA BOASSAS - 1938". Deste acontecimento são ainda hoje recordados pela população mais idosa alguns acontecimentos, nomeadamente a participação activa e empenhada da célebre escritora Carlota de Serpa Pinto. De facto tudo parece ter contribuído para que o momento tenha sido excepcional e para que a participação de Boassas tenha sido memorável.
A aldeia atingia o seu apogeu.
O caminho de ferro não tinha conseguido dar ainda o golpe de misericórdia nos bojudos barcos rabelos e consequentemente nos seus intrépidos marinheiros, tarefa postergada nos carrascos portentosos que haveriam de ser as barragens do Douro das vindouras décadas de 60 e 70. As sardinheiras galgavam lestas o caminho da serra de Montemuro, fazendo uma ponte humana entre as margens do Douro e “da Paiva”. O comércio florescia em dezenas de mercearias, tascos e lojas. A agricultura desenvolvia-se em torno da povoação, que parecia uma autêntica cascata num idílico jardim e os seus frutos, com que se atulhavam os ditos rabelos, eram trocados, no Porto, por outros bens e produtos que aportavam constantemente à aldeia.
Ainda não havia chegado a emigração (e imigração) e com ela(s) o despovoamento, o abandono das terras, das casas, dos campos e da própria alma dos que, por um motivo ou outro sobreviveram a esta autêntica sangria. Terá sido, provavelmente, a época em que mais população houve na aldeia. Esta, fervilhava de bulício e animação. Os bandos de crianças, em algazarra, brincavam e corriam pelas ruas e calçadas. Ouvia-se o martelar sincopado dos latoeiros, o escopro dos pedreiros, a plaina do marceneiros, o malhar do milho e do centeio pelas eiras, o cantar alegre das moças que iam buscar a água à “Fonte-da-Pedra” e o chilrear irritante dos carros-de-bois. O alfaiate, o “Toca-o-fê”, tirava as provas dos fatos com que se iriam abrilhantar festas e cerimónias, o barbeiro cuidava de melhorar a aparência de algum mais hirsuto transeunte e o retratista captava para a posteridade os momentos desses momentos únicos. Da Gralheira, do cocuruto da belíssima serra do “Monte de Mouros”, vinham os entendidos nas artes de moer a azeitona e fabricar o precioso e dourado líquido com que então se iluminavam ainda muitas casas. Pelo “Caminho da Costa”, o moleiro e seu cavalo traziam do moinho a farinha com que, nos fornos, se iria confeccionar o pão, em broas enormes de casca estaladiça e também os bolos de sardinha, que impregnavam o ar de aromas de fazer crescer água na boca aos mais incautos gargântuas e pantagruéis.
A vida decorria sem grandes sobressaltos... Nas portas das casas viam-se as chaves nas respectivas fechaduras. Barulho e refregas também as havia de quando em vez, sobretudo ao fim da tarde, quando Baco fazia os seus etéreos efeitos, à porta das tascas e tabernas. Mas também quando no verão, havendo falta de água, começava também a faltar a paciência pela espera, provocada por alguém que havia exagerado a quantidade de cântaros que um mísero fio de água iria encher. E então, porque este era um serviço de mulheres, era uma gritaria, um alvoroço, um vê-se-te-avias de cacetada, cabelos puxados e insultos de fazer corar as pedras da calçada. Acontecimentos logo esquecidos e perdoados no dia seguinte à saída da missa, pois que o Sr. abade, fazia questão de salientar que “verdadeiro cristão só aquele que sabe perdoar”.
E assim se passavam os dias nessa época já longínqua, em que, malogradamente, não quis a sorte que o famoso “Galo de Prata” viesse cantar para o cimo do campanário da capelinha de Nossa Senhora da Estrela, mas sim para as longínquas e graníticas paisagens da Beira, onde ainda hoje abrilhanta a capela local da aldeia de Monsanto.
O próprio evento do concurso da “Aldeia mais portuguesa de Portugal” é ainda referido e lembrado de quando em vez, por homens de letras e jornalistas, como faz, por exemplo, o escritor Guido de Monterey:

«Apesar de todos os pergaminhos com que, desde sempre, se adornou, o lugar de Boassas apenas se abriu para o país ao ser seleccionado para o concurso “A aldeia mais portuguesa de Portugal”, no ano de 1938. Promovido tal concurso pelo Secretariado de Propaganda Nacional, Boassas teve a honra de ser a povoação escolhida para representar a província do Douro Litoral, dado o afastamento prematuro de uma outra do concelho de Arouca (MERUJAS). Como prémio, um “galo de prata”. O Júri que, há dias esteve neste concelho, escolheu o populoso e comercial lugar de Boassas para concorrer ao “Galo de Prata”. Oxalá tenhamos, em breve, o prazer de ver o referido “Galo” na torre da linda capelinha de Nossa Senhora da Estrela. (Do jornal “O Comércio do porto”, notícia de 23 de Junho de 1938).
Participando, por escolha, 22 povoações do Continente, dez foram eliminadas de início, por não possuírem os requisitos exigidos pelo referido concurso. Ficaram, portanto, doze. Entre estas, Boassas. Após a visita do júri, a cada uma das aldeias concorrentes, reuniu este, em Lisboa, a 7 de Outubro de 1938. Em tal sessão, das doze em confronto, mais seis foram eliminadas. Boassas fazia parte destas.»
[MONTEREY, Guido de - Terras ao léu, CINFÃES, (págs. 331/332)]

Assim, o cobiçado “Galo de Prata”, símbolo da “Aldeia mais Portuguesa de Portugal”, acabaria pois, como foi referido, por ir parar à povoação de Monsanto da Beira, que com isso beneficiou de significativa projecção e relevância, encontrando-se hoje devidamente preservada, sendo visitada diariamente por centenas de turistas, estabelecendo um violento contraste com Boassas, que se despovoou, perdeu grande parte das suas tradições, dos seus usos e costumes, e cujo património continua constantemente a ser destruído. Isto, com o beneplácito das próprias autarquias, quando não com a sua própria colaboração, perdendo-se assim as (poucas) possibilidades de desenvolvimento e de melhoria da qualidade de vida da população que, desta forma, não cessa de abandonar a aldeia.
Será caso para afirmar, tivesse Boassas ganho o concurso e, com certeza, “outro galo cantaria”...» (in "Boassas Uma Aldeia Com História" de Manuel da Cerveira Pinto)

É esta, pois, a história da "2.ª Aldeia Mais Portuguesa de Portugal" que, na realidade poderia, quando muito e na melhor das hipótese ter apenas direito a um honroso 7.º lugar. O que se poderá dizer, certamente, é que Boassas foi à meia-final do referido concurso. Nunca que ficou em 2.º lugar. Mas é assim, "quem conta um conto"...

A ler no Sargaçal...

HDRA Encyclopedia of Organic Gardening - A sempre atenta e sugestiva indicação bibliográfica de JRF e ainda o artigo "POSITIVO", porque a crítica positiva também é desejável e tem sempre lugar. Possamos nós ter sempre aspectos positivos para enaltecer e divulgar...

"Portugal vai ser a horta da Europa"

Um artigo muito interessante a ler, urgentemente, no TERRAFORMA sobre esta notícia vinda a público na última edição do "Expresso". Ou como a agricultura intensiva pode trazer graves danos ambientais. Continuamos, insistentemente, a copiar os "erros" dos outros. Com tantos bons e notáveis exemplos, porque haveremos sempre de optar pelas mesmas soluções?...

sábado, novembro 26, 2005

Notas para uma estratégia de Ecopolis (3)

3.ª e última parte do artigo do Professor Doutor Jacinto Rodrigues, publicado na revista «Arquitectura e Vida» de Março de 2004

7. AGRICULTURA E INDÚSTRIA ECOLÓGICA

Em articulação com a actividade construtiva e também em função de outras actividades como a industrial, deveria proceder-se a uma eco-agricultura que complementarizasse a abertura de novos postos de trabalho às exigências simultâneas da agricultura e indústria numa base ecológica. Um exemplo que me parece interessante estudar é o do incentivo da cultura do cânhamo. Queremos aqui referir, evidentemente, o cânhamo industrial, isto é, a planta Cannabis Sativa L. cujo teor de T.H.C. é inferior a 0,3, não sendo por isso susceptível de ser utilizada como droga. Refira-se ainda que o cultivo desta planta industrial é subvencionado pela União Europeia.A cultura do cânhamo foi praticada no Norte, Centro e Sul de Portugal, ao longo de várias épocas, nomeadamente no fabrico das velas e do cordame para os barcos à vela.
Tem a seguinte particularidade: é uma produção agrícola de fácil manutenção, beneficia os solos e permite, para além da tecelagem, o fabrico de papel e outros materiais. Acontece ainda que, através de processos recentes, esta planta está a ser utilizada na bioconstrução.
Também a transformação tecnológica do bambú chinês “miscanthus” poderá vir a possibilitar uma articulação entre a actividade agrícola e a bioconstrução.
São também possíveis outro tipo de actividades agrícolas (permacultura, agricultura biodinâmica) capazes de promover agro-pecuárias ecológicas.

8. TRANSPORTES ALTERNATIVOS

Os transportes públicos não poluentes deveriam constituir uma alternativa à invasão do trânsito urbano.Com os corredores verdes, para além da função depuradora, criam-se circuitos pedonais e ciclovias que poderão permitir conexões entre várias zonas.As passarelas constituem atravessamentos fáceis, permitindo logradouros por onde se espraiam paisagens urbanas.Os centros da cidade, em particular os centros históricos, são avessos ao uso de automóveis.No estado actual, os veículos são poluentes e constituem uma oposição ao uso de hortas urbanas e espaços públicos de lazer e cultura.

9. PARTICIPAÇÃO CONSCIENTE DAS POPULAÇÕES

A prática do urbanismo numa perspectiva ecológica deverá ter em conta a mobilização das populações na detecção dos problemas e sua resolução.
Assim, o eco-urbanismo é, antes de tudo, desígnio estratégico sujeito às múltiplas interacções surgidas ao longo dum percurso que deve ser entendido como processo permanente embora com faseamentos nos objectivos mas que serão sempre sujeitos a constantes avaliações e retroacções.
A “investigação-acção” e o “trabalho de projecto” são as práticas sociais que melhor se coadunam com esta filosofia. A mobilização consciente da população é decisiva. Volto ainda à experiência de Curitiba:
Nalguns festivais culturais, encontros de cinema, teatro ou música promovidos pela municipalidade dessa cidade brasileira, a entrada dos espectáculos é paga com garrafas usadas ou papel para reciclar. Este tipo de mobilização pela positiva é uma forma educativa que sendo alheia a qualquer processo administrativo-repressivo, liga as aspirações às necessidades, promove solidariedade e cooperação num clima social, lúdico e festivo tão necessário à participação popular nos objectivos de interesse público.
Através desse processo, a população vai tomando consciência da problemática ecológica e o planeador deixa de ter a arrogância dum tecnocrata autoconvencido dum qualquer “modelo” estático e “ad eternum...”.

Assim, o eco-urbanismo é um caminho que se faz caminhando, parafraseando o poeta Machado.

No entanto, qualquer intervenção deve ser reflectida e inserida numa óptica projectiva, futurante, pois os dispositivos topológicos são, por natureza, resistentes à mudança. E quando se constroem dispositivos errados, estes funcionam como travão às mudanças, podendo mesmo transformar-se em mecanismos de reprodução de hábitos opostos à necessária e permanente metamorfose social.

Por, Jacinto Rodrigues . Professor catedrático da Universidade do Porto

quinta-feira, novembro 24, 2005

II Encontro Internacional de Ceramistas em Boassas



Encontra-se em preparação a 2.ª edição do Encontro Internacional de Ceramistas em Boassas, estando já elaborado o respectivo programa que, seguidamente, damos a conhecer. Foram já contactadas diversas entidades, entre as quais o Museu Nacional de Cerâmica González Martí (Valência), na pessoa do seu director, Jaume Coll. Está, neste momento, confirmada a presença dos seguintes artistas/ceramistas: Arcadio Blasco; Rafael Pérez; Myriam Huertas; Juan Ortí; Fernando Malo; Sofia Beça; Javier Fanlo e do músico português, Gustavo Costa. Lembramos que na exposição da 1.ª edição, do Museu González Martí, ao fim de um mês o museu havia registado 25.000 visitantes, tendo pedido o prolongamento do prazo da mesma... As grandes inovações desta próxima edição serão: a criação de um espaço de aprendizagem para as crianças com o acompanhamento de um professor (duas hora por dia, durante a semana); um concerto de encerramento e a abertura de um espaço de exposição. Esperemos que o sucesso se repita. Neste momento, está a ser comercializado em Espanha, através da revista Ceramikarte, o vídeo do 1.º encontro. O programa, para a próxima edição é o seguinte:

II Encontro Internacional de Ceramistas em Boassas
De 8 a 22 de
Abril de 2006

Dia 8 sábado: Recepção dos ceramistas
Apresentação da temática dos trabalhos a realizar.
Tarde: Reconhecimento do local, montagem da exposição e das bancadas de trabalho.
Dia 9 domingo: Sessão de abertura
Inauguração de mostra de trabalhos dos autores presentes.
Modelação (inclui amostras de paletas para experiências de vidrados).
Dia 10 segunda-feira: Modelação.
Dia 11 terça-feira: Modelação.
Dia 12 quarta-feira: Modelação. Acabamento e secagem das peças produzidas.
Dia 13 quinta-feira: Montagem de fornos de Papel, de fornos de lenha e de fornos a gás.
Dia 14 sexta-feira: Chacota das peças. Preparação dos vidrados. Experiências com os vidrados nos vários fornos, para elaboração das paletas de cor.
Dia 15 sábado: Chacota das peças. Vidragem e cozedura das peças.
Dia 16 domingo:[Páscoa] Dia de Descanso. (Passeio e confraternização entre os ceramistas participantes)
Dia 17 segunda-feira: Montagem de fornos de papel e Cozeduras
Dia 18 terça-feira: Cozeduras.
Dia 19 quarta-feira: Cozedura de peças
Dia 20 quinta-feira: Cozedura de peças
Dia 21 sexta-feira: Cozedura de peças.
Tarde: Mesa redonda. Reflexão sobre os resultados.
Noite: Concerto pelo Quarteto Gheegush (Gustavo Costa - bateria e percussão;
Henrique Fernandes - Contrabaixo; João Martins - Saxofone; Jonathan Saldanha - Electrónica)
Dia 22 Sábado: Sessão de encerramentoArrumação e limpeza do espaço de trabalho

Ainda sobre a primeira edição pode ler-se um interessante artigo no "Jornal do Centro", intitulado "Fazer cerâmica com vista para o Douro".

segunda-feira, novembro 21, 2005

Terra Sã 2005 . Lisboa



É já nos próximos dias 25, 26 e 27, em Lisboa. Ainda não sabemos se as "Aldeias de Portugal", à semelhança do que aconteceu no Porto irão estar presentes (e entre elas, Boassas, claro...) Esperemos que sim...

A propósito de turismo...











Temo-nos abstido de falar de turismo, porém estamos convictos de que o futuro de Boassas passa também, impreterivelmente, por um desenvolvimento neste sentido. Não vislumbramos outra alternativa que não esta, para que a aldeia possa sobreviver. Estamos em crer que a povoação possui todas as condições para que possa ser bem sucedida nesta área. Para que, porém, haja algum sucesso haverá que ter em conta que deverão ser, obrigatoriamente, observadas as seguintes premissas:
- Planear o desenvolvimento da região de forma integrada e sustentável
- Oferecer serviços turísticos de qualidade
- Preservar e valorizar a identidade local
- Preservar a natureza
- Promover os produtos e actividades endógenos
- Apostar no desenvolvimento dos valores antropológicos da região (através de todas as formas comunitárias; administrativas; agrícolas; religiosas e outras)
- Incentivar a valorização das culturas locais, incluindo-as na economia sustentável da região (agricultura; produtos biológicos; artesanato; gastronomia, etc.)
- Promover eventos e visitas orientadas e integradas em projectos de animação sócio-cultural, ambiental e outras...
- Contribuir para a organização de grupos culturais recreativos e eco-museus
- Promover a divulgação da região (e seus produtos) no país e no estrangeiro
Este é o desenvolvimento que almejamos para a aldeia e região onde se insere, tendo como certo que os primeiro passos estão já a ser dados neste sentido, estando a ter já alguma repercussão. Por outro lado, estamos convictos também de que a contrariação deste tipo de desenvolvimento e a continuação da aplicação do modelo das últimas décadas irá, seguramente, inviabilizar a possibilidade de desenvolvimento e de futuro da aldeia e sua região.

Um novo texto do Professor Jacinto Rodrigues...

A ler no Desenvolvimento Ecologicamente Sustentável. Chama-se Emannuel Rolland - homem que planta hortas, jardins e florestas.

Reino do disparate... ou sinal dos tempos?

Depois do maior bolo de chocolate, da travessia do país em pé-coxinho, do maior banquete servido em cima de uma ponte e outras úteis façanhas, Portugal continua no seu melhor, agora com um monumental traste de metal e luzes... Que mais dizer?...

sábado, novembro 19, 2005

As doceiras de Boassas


















A senhora Joana Carmezim, na feira de Cinfães, última das afamadas doceiras de Boassas. Mais uma arte que se vai perdendo na voragem dos tempos, do "fast-food", do insípido e do vulgarizado em detrimento do genuíno, do autêntico e tradicional

«São célebres as doceiras de Boassas, presença célebre e constante em qualquer feira e Romaria de Cinfães ou dos concelhos vizinhos. Aí se instalam com as suas tendas, espécie de enormes guarda-sóis de madeira e toldo de pano, as iguarias dispostas nos compridos tabuleiros, protegidos por panejamentos alvos e decorativos.
Não há acontecimento, festa ou arraial digno de registo se não for acompanhado com um doce típico. A Páscoa será talvez a época do ano em que mais se fabricam e vendem. Nesta altura, em que as galinhas põem mais ovos, produz-se também o pão-de-ló.
Os doces mais típicos são, porém, os deliciosos bolos de manteiga, vulgarmente chamados de “matulos”, quiçá pela sua forma amorfa e desajeitada. Mas são também célebres as “fatias”, espécie de pão-de-ló, cortado em fatias rectangulares e com uma cobertura de açúcar branco, parecidos com as célebres “cavacas” de Resende, assim como uns pequenos bolos de pão-de-ló, redondos e achatados e totalmente recobertos de açúcar. Antigamente a manteiga com que se faziam os “matulos” era trazida da serra de Montemuro pelas sardinheiras de Boassas. Tanto a manteiga como os outros produtos da serra eram trocados directamente pelo peixe que levavam.»
[1]

Não poderia deixar de referir aqui outros doces típicos de Boassas, embora não comercializados nas feiras e festividades da região, mas mais ligados às festas familiares (no caso ao Natal), nomeadamente: as filhós (tão bem confeccionadas pela sra. Do Céu) e os "formigos" (espécie de açorda doce - ovos, pão, açúcar, sultanas e canela. - e, provavelmente, mais uma herança árabe...).

[1] Manuel da Cerveira Pinto in "Boassas, uma aldeia com história" - 2004

quinta-feira, novembro 17, 2005

O "Boassas" no "Mofo"...

O blogue de Oliveira de Frades "MOFO", dedica-nos um artigo em que transcreve duas linhas de um comentário que fizemos a propósito de cinema e cultura... Chama-se "O Mofo visto de Boassas, Cinfães".

segunda-feira, novembro 14, 2005

Novamente as eólicas do Montemouro

O Sargaçal continua a brindar-nos com oportunos artigos sobre as eólicas do Montemouro. Agora afirma que "para o Montemuro já é tarde"; "não há nada a fazer", mas... será mesmo assim?

sexta-feira, novembro 11, 2005

"O petróleo branco das serras"

O Sargaçal edita um oportuno texto sobre o novo parque eólico que vai ser implantado em Tendais (Cinfães) na já tão massacrada Serra de Montemouro... O tema anda a ser muito badalado e pode ser lido também no Ondas2 e no Ambiente Online. Quando será que os senhores governantes vão perceber que a questão ambiental passa, em primeiro lugar e impreterivelmente, pela gestão e ordenamento do território?...

quarta-feira, novembro 09, 2005

Notas para uma estratégia de Ecopolis (2)

2.ª parte do artigo do Professor Doutor Jacinto Rodrigues publicado na revista «Arquitectura e vida» de Março de 2004

3. BIO-CLIMATIZAÇÃO E BIO-DEPURAÇÃO
O verde urbano, através de corredores verdes, jardins e bosques urbanos, deve ter uma função ecológica decisiva para a bioclimatização e biodepuração.
Muito do lixo orgânico, resultante dos consumos urbanos, pode ser reciclado como fertilizante para hortas e bosques. Recorde-se o exemplo de Curitiba em que os fertilizantes orgânicos entregues pelos cidadãos, permitem a troca com produtos agrícolas criados nas hortas municipais.
Também a renaturalização dos rios não é apenas uma questão de estética.
Hoje conhecem-se bem os fenómenos da fito-depuração dos sistemas de lagunagem, da meandrização e das pequenas cascatas como factores de melhoria na qualidade da água.

4. ENERGIAS RENOVÁVEIS
As energias renováveis devem ser tratadas como uma questão central do ecodesenvolvimento. Devem ser utilizadas duma forma integrada e essencialmente numa escala regional. Por exemplo: mini-centrais que articulem várias energias complementares (solar/ eólica/ hídrica/ biogás, etc.) podem responder muito melhor do que estruturas gigantes monoenergéticas. A escala construtiva comunitária oferece também vantagens sobre o uso de protótipos energéticos à escala familiar. Todas estas estruturas devem inserir-se numa malha policêntrica do território, capaz de o cobrir, energeticamente, com o máximo de descentralidade e complementaridade.

5. BIO-CONSTRUÇÃO
A edificação deve pautar-se por uma legislação com preocupações ecológicas claras. O uso de materiais não poluentes, as preocupações pelos sistemas solares passivos, a articulação com a bioclimatização gerada pela eco-paisagem, devem ser um factor chave. A própria disposição espacial pode valorar o aproveitamento energético.
O exemplo francês pode ser implementado como processo pedagógico. O programa denominado construção de alta qualidade ambiental (H.Q.C.) estabelece concursos especiais na base de soluções ecológicas através da escolha de materiais não poluentes e soluções energéticas alternativas.
As edificações públicas, em particular as escolas e centros de formação cultural devem tornar-se experiências exemplares. Quando funcionam segundo o preceito da eco-construção, favorecem comportamentos e atitudes que são as melhores soluções para uma verdadeira educação ambiental.
A construção bioclimática exige novas formas, novos materiais, novos processos de implantação topológica. Estas novas morfologias complexas são dispositivos catalizadores duma outra civilização. (continua)

Jacinto Rodrigues
(professor catedrático da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto)

I concurso de fotografia da APOBO... já há prémios!


Já há prémios para o nosso concurso de fotografia. São os seguintes:
1.º prémio: 300 €
2.º prémio: 150 €
3.º prémio: 75 €
Caso se justifique, podem ser atribuídas Menções Honrosas.
Estamos à espera da vossa participação. Bom trabalho!

Lapsos...

Havíamos já reparado que o número de "comentários" havia diminuído drásticamente após a última reformulação do blogue. Atribuímos a causa ao facto de termos introduzido uma chave para evitar a entrada de mensagens automáticas ou publicidade. Afinal havíamos, inadvertidamente, seleccionado uma opção em que apenas os membros do próprio blogue poderiam fazer comentários. A todos aqueles que entretanto tentaram, infrutíferamente, colocar comentários aos nossos artigos formulamos o mais veemente pedido de desculpas. Esperamos, pois, voltar a ter muitos e construtivos comentários.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Mais "reciprocidades"...

A comunidade em torno de Boassas não pára de aumentar e de nos surpreender. A mais recente adesão vem dos lados de Oliveira de Frades e chama-se MOFO. Da visita ficou-nos uma muito boa impressão. Mais uma vez só nos resta agradecer e retribuir a deferência. Bem hajam!...

Poluição luminosa...

É espantosa a forma como prolifera a iluminação dos montes na região. Há casas e terrenos de particulares que têm mais iluminação que a aldeia de Boassas inteira. A necessidade de afirmação, o provincianismo saloio dos "senhores doutores" que chegam das cidades e querem mostrar as suas belas "maisons" de desenho caseiro em estilo "neo-português-suave" é um atentado á vista. E não bastava só sê-lo durante o dia. Agora nem à noite passam despercebidos, que o estatuto social não tem dia nem hora. Até porque eles nem sequer têm medo do escuro. Que culpa têm eles do atrazo existente no mundo rural, onde à noite não há carros, movimento e luzes para afastar lúgubres pensamentos. Estrelas?...Pássaros e animais nocturnos?...Aumento do consumo da energia eléctrica?...Aquecimento global?...«Quero lá saber disso. Quero é mostrar a minha casa nova, até porque o andar lá na cidade não se pode iluminar e mostrar "ao público"!... E a factura, afinal, é a dividir por todos.»
Isto a propósito do brilhante artigo "Poluição Luminosa", de Bernardino Guimarães, a ler no blog «Campo Aberto».

terça-feira, novembro 01, 2005

Afinal talvez seja esta a próxima vítima...



Capela de Nossa Senhora da Estrela

Este fim-de-semana reparamos que começaram a ser executadas obras na capela de Boassas, estando a ser retirado o reboco exterior. Esperamos, sinceramente, que sejam apenas obras de "restauro" e que nada vá ser alterado do seu aspecto exterior. Sabemos bem da apetência actual pela "pedra à vista", que nada tem que ver com este tipo de edifícios, nem com a época em que foram construídos e que há anos, infelizmente destruiu parcialmente o interior. Muito estranhamos que não haja o devido acompanhamento por técnicos especializados tratando-se de uma obra com quase trezentos anos e que integra o rol do património da aldeia, a qual, recordamos, se encontra classificada no PDM como "de Valor Patrimonial" e também, recentemente, como "Aldeia de Portugal". Esperamos que não seja esta a "próxima vítima" e aproveitamos para falar um pouco sobre este edifício, deitando mão, mais uma vez ao "...Uma aldeia com história".

«A Capela de Nossa Senhora da Estrela localiza-se ao cimo da Arribada, junto às casas patrimoniais do Cubo e do Cerrado, coroando a zona mais antiga da povoação e rematando o largo principal, a Avenida Pinto Branco ou Largo da Capela (como é mais conhecido). Trata-se de uma capela modesta, de singela arquitectura chã ou plana, mas com algumas particularidades, ainda assim, dignas de nota.
Não é, seguramente, a capela original da aldeia, cujos vestígios subsistem, quanto a mim, sob a majestosa Casa do Cubo, uma vez que me parece de todo improvável que a aldeia não tivesse uma capela já em 1253, data em que D. Afonso III lhe outorgou a sua honrosa Carta de Foral. Esta é uma construção bem mais recente, edificada, segundo a inscrição na sua frontaria por sobre a porta principal, no ano de 1710.
A esta edificação refere-se o historiador M. Gonçalves da Costa da seguinte forma:
“Na (capela) da Senhora da Estrela, em Boassas, deixou Timóteo Campelo, em testamento, um óbito de missas perpétuas às sextas-feiras e sábados, mas sem qualquer legado a favor da instituição. Supriu Francisco Botelho do Amaral, vinculando-lhe 200 mil réis a juros para a fábrica. A 11 de Julho de 1713, a cúria episcopal passou a licença para a
celebração da missa, pagando o P.e João Godinho da Costa a chancelaria.” [1]
Trata-se de um templo de uma só nave, com capela-mor, arco triunfal e sacristia.
O altar maior, de modesta talha com motivos vegetalistas, pintada a branco e ouro, integra no seu retábulo uma delicada imagem de Nossa Senhora, em pedra de ançã. Adossados ao arco triunfal estão dois altares, revestidos em artística talha de traço barroco, que integram formosas imagens de S. Francisco de Assis e S. Sebastião. Possui ainda uma “Imagem de Nossa Senhora de Fátima benzida a 8 de Dezembro de 1981” e terá sido “restaurada em 1929”.
[2]

Será ainda de salientar o curioso e peculiar pequeno coro, com acesso pelo exterior.
Sofreu recentemente obras de manutenção e aqui, lamentavelmente, este sofreu foi de facto doloroso, pois que as obras foram executadas sem qualquer critério ou orientação, tendo sido realizadas várias atrocidades, como por exemplo a eliminação do reboco das paredes, deixando a pedra à vista, contrariando a característica da época em que foi executada; a substituição do pavimento em soalho de madeira por outro de medíocres mosaicos cerâmicos vidrados e a eliminação das pinturas decorativas do tecto, subsistindo apenas a imagem central, horrivelmente desfigurada.
O exterior, felizmente mantém-se intacto, ou quase, não fosse o péssimo hábito que têm as pessoas de “adornar” o pequeno campanário que coroa a frontaria com a mais variada panóplia de trastes, que vão desde uma horrorosa cruz metálica com lâmpadas multicolores, até bandeiras e a uma parafernália incrível de altifalantes. Estes, assim que começam a debitar ruído, transformam aquele que deveria ser um local sagrado num autêntico “inferno”, capaz de enlouquecer o mais manso dos personagens bíblicos, afastando tudo e todos das suas imediações, mesmo os que a pretendam visitar.
“Xinfrim” à parte, a capela de Boassas, ou melhor a capela de Nossa Senhora da Estrela, destaca-se e sobressai, não pela sumptuosidade, riqueza ou grandiosidade, mas sim pela sua graciosidade despojada, pela escala, rigor e coerência das suas proporções e merece a pena, sem dúvida, ser visitada.
É, como comecei por referir, um exemplar digno da chamada arquitectura chã ou plana, cuja particularidade reside sobretudo no contraste entre os rugosos elementos de granito e a superfície lisa do reboco caiado. E aqui será também de salientar um outro aspecto também fortemente dissonante e negativo que é o rodapé negro que introduziram nas suas fachadas e que nada tem a ver com aquele tipo de edificação e com a sua época.
O elemento, no exterior, que mais realce adquire é, sem dúvida, o gracioso e proporcionado campanário. Este adorna a fachada principal, ao centro e é delicadamente esculpido em granito e encimado por uma cruz central e dois pequenos coruchéus, a fazer lembrar um pórtico de feição renascentista e constituindo uma opção muito curiosa e invulgar.
Os dois extremos da fachada são também ornamentados por dois coruchéus idênticos, mas de maiores proporções. Será ainda de referir as duas grandes cruzes de granito que ornamentam exteriormente as zonas do arco e da ábside na parte posterior do edifício, o que constitui também uma opção pouco frequente e invulgar. Todos os anos é costume realizar-se uma festividade em frente à capela em honra da Santa padroeira, Nossa Senhora da Estrela, em que a imagem é transportada em procissão.


Bibliografia consultada
[1] COSTA, M. Gonçalves da - História do Bispado e Cidade de Lamego, vol IV, págs. 374/375
[2] MONTEREY, Guido de - Terras ao Léu, Cinfães, pág. 292

Manuel da Cerveira Pinto
in "Boassas - Uma Aldeia com história", 2004