Liz Christy, em 1973, juntamente com activistas ecológicos, criou a primeira horta comunitária, num terreno abandonado de Manhattan.
Mais tarde, este terreno cultivado viria a ser destruído e transformado num parque de estacionamento, pela Câmara Municipal.
Não se dando por vencido, este grupo ecológico realizou uma segunda tentativa com a criação de um jardim comunitário. Foi esta experiência na zona de Houston, também em Nova Iorque, que se tornou na experiência exemplar que veio a revelar-se num movimento denominado “guerrilha verde”.
Pouco a pouco, graças ao apoio crescente da opinião pública e também a mudanças no seio de algumas instâncias municipais, foram surgindo avanços mais positivos. As atitudes repressivas foram dando lugar a contratos de arrendamento e nalguns casos à criação de Associações de interesse público ligadas a actividades como a agricultura ecológica urbana.
Os exemplos acabaram por se multiplicar e, nos anos 80, o movimento das “Green Guerrillas” contava mais de 700 jardins legalizados e largas centenas de participantes organizavam uma nova militância de acção directa ecológica.
Nos anos 90 a “Green Guerilla” tornava-se num movimento legalizado e expandia-se. Organizou uma escola com cursos de sensibilização ambiental. E os vários jardins constituíram-se em novas alternativas de práticas sociais: surgiram então jardins mais vocacionados para a horticultura e pomares, outros ainda mais orientados para a prática pedagógica com crianças e outros com características de integração de excluídos.
De uma forma geral, estes novos espaços verdes públicos ou municipais vieram a ser animados numa perspectiva global onde através de múltiplas vertentes - terapêutica, lúdica, pedagógica e de sustentabilidade – se procurava a autonomia e a consolidação de uma estratégia virada para um novo paradigma da cidadania na busca de eco-cidades.
Já referimos neste jornal algumas práticas que vão nesse sentido da acção directa ecológica. Na Alemanha, Joseph Beuys, fundador do movimento dos verdes, procurou plantar 7 mil carvalhos na baixa da cidade de Kassel. Em Itália, a experiência com jardineiros e camponeses que ele tentou animar, constituiu uma rara e subtil ligação de sensibilidade artística com a actividade agrícola.
Estas acções inspiraram múltiplas experiências que ainda hoje se desenvolvem em várias cidades.
Em França são várias as experiências, nomeadamente em torno da Escola Nacional Superior da Paisagem, que introduz concepções novas para espaços verdes e a formação no domínio da agricultura ecológica urbana.
Embora tomando como referência os antigos jardins operários e jardins comunitários do final do séc. XIX e princípios do séc. XX, a prática ecológica agora defendida, não se constitui como uma forma de resistência em torno da subsistência mas situa-se muito mais numa preocupação em torno de uma alimentação de qualidade pela agricultura ecológica, uma nova forma solidária e terapêutica, de cooperação e não exclusão e também uma vontade de aprender uma prática social e pedagógica apontando para a conquista de novos espaços públicos na cidade que se deseja progressivamente transformar em eco-sistema baseado no desenvolvimento ecologicamente sustentado e cada vez mais gerido por redes organizativas da sociedade civil. Todos estes movimentos têm contribuído para retirar dos centros das cidades a presença de automóveis poluentes, tornando-se assim uma forma integrada de defender simultaneamente transportes públicos não poluentes para não afectar a actividade de agricultura ecológica.
Esta nova prática social de vida constitui uma ruptura com a antiga militância. É uma via de intervenção cívica pela defesa dos espaços públicos.
Trata-se de ligar a transformação social com o auto-desenvolvimento. Agir civicamente de modo a implicar-se com a vida. Fazer regenerar a natureza e impedir a pulsão suicidária. Inverter a solidão e a falta de estima. Cooperar e não excluir. Cuidar e curar em vez de destruir as pessoas e o planeta.
Jacinto Rodrigues
(professor catedrático da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto)
Artigo publicado no Jornal "A Página" de Outubro de 2003
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