sexta-feira, abril 08, 2005

Arquitectura tradicional em perigo

Assim era a antiga loja e "Casa do Casaca". O mais recente alvo da "incúria" do poder político local. Algumas mentes "letradas" chamaram-lhe "tugúrio malcheiroso". Não tanto, decerto, como o lixo que se faz transportar dentro de determinadas cabeças... Resta-nos a memória da documentação fotográfica. Ainda assim, uma outra forma de preservar o património...

[Photo . Manuel da Cerveira Pinto (all wrights reserved)]

8 comentários:

Anónimo disse...

É, de facto lamentável. Substituiu-se uma construção típica, e antiga, por algo novo e desenquadrado...

Associação Por Boassas disse...

Há que ter em conta que era uma construção como não mais se irá fazer, símbolo de uma época e de um passado, de uma forma de viver e habitar. Como eu costumo dizer: "o problema não é tanto o que se faz «novo», mas sim o que se destrói..."

Sónia Constante disse...

Provavelmente puderá ser lamentável... Mas se a construção já está concluida, provavelmente esta imagem e comentários eram desnecessários. Porque se a associação visa a demonstrar Boassas essa realidade já não existe logo não tem o porque de existir. Mas isto, é somente a minha opinião.

Anónimo disse...

Tal como é referido, a memória fotográfica é também, sem dúvida, uma forma de preservar o património. A imagem é colocada precisamente para que as pessoas tomem consciência do valor que representa a arquitectura tradicional e popular e do quanto se perde quando se destrói um exemplar como o que é apresentado. Faz todo o sentido que sejam apresentadas imagens da arquitectura tradicional da aldeia, até porque se não existirem essas referências locais é sinal de que a tradição, a memória e a identidade se perderam definitivamente. Há que divulgar os bons e maus exemplos, para que seja possível aprender com os erros do passado e construir o futuro... Infelizmente temos muitos outros exemplos semelhantes, que iremos divulgar sempre que possível.
Para finalizar direi apenas que os museus (espaços da memória) se constroem, quase sempre, com a memória de realidades desaparecidas...serão por isso menos necessários?

Sónia Constante disse...

Sim, a memória fotográfica é uma forma de preservar o património. Mas existem construções muito mais desenquadradas, nomeadamente a habitação dos meus pais. Nem todos temos as mesmas opiniões e como vivemos numa democracia temos que respeitar as diferenças. E num tema que tanta polémica gerou, parece mais uma forma de marcar um ponto. Mas mais uma vez é somente a minha opinião.

Anónimo disse...

É evidente que há que respeitar as diferenças e as opiniões. No entanto, tal como eu digo anteriormente, o problema não é tanto aquilo que se faz novo, mas sim aquilo que se irremediavelmente se perde... O património também se constrói e é por isso que, embora Óscar Niemeyer ainda seja vivo, Brasília é Património Mundial da Humanidade. Agora, uma coisa parece que temos que ter em conta, embora todos tenhamos direito a manifestar os nossos pontos de vista, não é a opinião pública que classifica monumentos e paisagens e que trata da salvaguarda do património. Se assim fosse, seguramente já muitas obras não existiriam...
Gostaria também de frisar que é graças a este tipo de património que hoje locais como Piódão; Castelo Rodrigo; Mértola; Óbidos; Monsanto; Sortelha; etc. são destinos turísticos e culturais visitados e conhecidos em Portugal... Recordo que para classificar Boassas como "Aldeia de Portugal" foi necessário indicar o património existente, nomeadamente em termos de arquitectura tradicional. Infelizmente já não pudémos incluir o exemplar em questão, sendo que é cada vez mais difícil encontrar edifícios ainda com estas características.
Infelizmente nunca houve quem se preocupasse devidamente com estas questões em Boassas e embora a aldeia esteja definida no Plano Director Municipal como "LOCAL DE VALOR PATRIMONIAL" a câmara municipal e a junta de freguesia nunca fizeram NADA pelo seu património. Provavelmente nem o conhecem... O que temos assistido, sobretudo nos últimos tempos, é a uma autêntica destruição em massa fomentada precisamente pelas autarquias. E aqui já não é uma questão de gosto ou de opinião, pois é a estas entidades que incumbe a protecção e salvaguarda do património, em primeira instância e tal como se encontra referido nesses planos; na legislação existente e na própria Constituição da República...
para finalizar, gostaria apenas de dizer que, não tenhamos dúvidas de que cada casa de arquitectura popular que é destruída é como as tradições que desaparecem; como as história e lendas que deixam de se contar; como as arte e ofícios que se extinguem ou como uma árvore que morre...
A população de Boassas tem que começar urgentemente a tratar de todo o seu património, contrariando o tipo de acções que têm sido desenvolvidas nas últimas décadas e que transformaram a aldeia numa mera sombra do que foi outrora.
Com a ajuda de todos, talvez ainda possamos ir a tempo...

Sónia Constante disse...

Eu concordo com o salvaguardar do património e estou pronta a ajudar no que eu entenda que seja correcto e que vâ de encontro aos meus valores. Eu não me oponho no preservar o património eu simplesmente acho que esta imagem pode ser interpretada de várias formas.

Anónimo disse...

Percebo que a imagem em causa possa dar azo a várias interpretações. Gostaria de salientar, porém, que ela é colocada apenas como um exemplo, recente, daquilo que deverá, no futuro, ser evitado e (como já aqui frisamos) não está tanto em causa aquilo que foi construído mas sim o que definitivamente se perdeu. Tal como diz o Sr. Frits Schuitemaker, as pessoas de Boassas têm que começar a ter orgulho na sua aldeia, nas suas tradições, nas suas casas, nos seus usos e costumes, na sua própria identidade... pois é isso que faz de Boassas aquilo que (ainda) é. Porém e tal como refere Frits, é necessário agir rapidamente, pois muitas coisas podem ser destruídas se não tivermos a atenção necessária... Fica a certeza de que a APOBO divulgará tudo aquilo que se considerar serem exemplos positivos de recuperação do património.
Acreditamos, sinceramente, que as coisas possam ainda mudar e óbviamente contamos, para isso, com a ajuda de todas as pessoas de Boassas (e não só). Obrigado