(photo . arq. Renato de Brito . all wrights reserved)
É um dos poucos exemplares de arquitectura tradicional de Boassas ainda intacto (e em bom estado de conservação). Sabe-se que foi vendido recentemente e que os novos proprietários pretendem fazer obras. O nosso apelo fica desde já registado, no sentido de que não se venha a destruir mais uma peça do património arquitectónico de Boassas, que esteve, inclusive, na origem da sua classificação recente como "ALDEIA DE PORTUGAL". Não tenhamos dúvidas de que o futuro de Boassas passa, impreterívelmente, pela preservação da sua cultura, das suas tradições, dos seus usos e costumes e... óbviamente, do seu património construído. Permitir a sua destruição é hipotecar o futuro da população da aldeia, é comprometer a réstea de esperança que reside nos passos que têm vindo a ser dados no sentido da promoção e desenvolvimento deste povoado milenar.
17 comentários:
O titulo deste artigo é sugestivo... Quando se fala "em bom estado de conservação" predominam as minhas dúvidas, não sou especialista em avaliar em ímoveis mas se esta casa fosse propriedade minha provavelmente também efectuaria obras. Os novos proprietários provavelmente não querem prejudicar Boassas por isso os especialistas em conservação do património prestem o seu conhecimento aos novops propietários, isto é ajudem-nos. A ideia que eu tenho é que a associação não quer o despovoamento da aldeia, assim sendo, por vezes não entendo por completo os artigos, a sensação que por vezes tenho é que existe uma espécie de medição de forças. O diálogo com os novos proprietários e o auxilio a estes em como devem fazer para preservar o património provavelmente é mais importante e eficaz.
É óbvio que a Associação Por Boassas (e os ditos "especialistas em conservação do Património") estão disponíveis para prestar todos os esclareciemntos e ajuda possíveis. Falta é saber se as pessoas querem ouvir!... O que se tem feito à aldeia nos últimos anos (sobretudo nas últimas décadas) tem tido resultados catastróficos, sendo que hoje apenas meia dúzia de pessoas reside diariamente em Boassas. Por isso é evidente que não é por (supostamente) se modernizar as casas (na realidade o que as pessoas fazem é destruir o valor das suas próprias habitações - algo como trocar mobília Luís XIV por outra de aglomerado folheado a fórmica, ou como trocar um vaso da dinastia Ming por um "pechisbeque" da loja dos trezentos...). Na realidade todos perdemos com isto. Não é só o proprietário... Claro que não queremos os despovoamento da aldeia nem da região, bem pelo contrário. Posso dar um exemplo concreto - a recuperação da "Quinta da Ventozela", no Casal, próximo de Cinfães. Esta quinta estava abandonada e prestes a ser vendida. Os proprietários foram contactados sobre a possibilidade de a casa poder vir a funcionar como turismo rural. A proprietária deixou a sua casa no Porto e o seu emprego, para se fixar ali... Hoje é uma das unidades túristicas de cinfães mais bem sucedidas. Se lhe tivessem feito as obras que é costume fazer-se em Boassas, Cinfães e arredores, tenho muitas dúvidas sobre o seu futuro. O facto é que uma casa abandonada passou a ser habitada e rentável... Não será isto, afinal, o que se quer para Boassas? Ao fim ao cabo há muitas décadas que se vem destruindo a aldeia (segundo a minha opinião) estando à vista de todos o resultado. Só não vê quem não quer! É óbvio que se não se mudar de atitude a aldeia irá colapsar, quando os restantes 10% a abandonarem também... Claro que nada tenho contra as "novas" construções, bem pelo contrário. No entanto, num país que tem 5 milhões de casas a mais acho que se deveria dar prioridade à recuperação. Por outro lado as ditas construções "novas" são, na generalidade, barracos manhosos, mal desenhados e concebidos, que as pessoas pagam a peso de ouro. Onde está uma obra nova em Boassas que seja uma boa obra de arquitectura construída recentemente?... Gostaria novamente de frizar que foi também graças a exemplares genuínos como este da fotografia que foi possível a classificação de Boassas como "Aldeia de Portugal"...
Sobre as questões do património vernáculo aconselha-se vivamente a leitura da "CARTA SOBRE O PATRIMÓNIO VERNÁCULO", publicada aqui no "blog". Talvez depois se entenda um pouco melhor aquilo que queremos dizer e almejamos para Boassas...
O que Eu digo é que nem sempre as pessoas são devidamente esclarecidas e a ajuda nem sempre é prestada e por veses a forma como essa ajuda vem não é esclarecedora porque nem sempre dá para entender se é ajuda ou critica. E quando se fala na Quinta de Ventuzela nem todos têm o poder económico para executar obras e nem todos têm a "sorte" de obter os contactos necessários para concretizar tal feitos como o Turismo Rural. E os conhecimentos e prestigio neste pais e vila são essenciais porque ainda ontem aqui nos arredores de Boassas precisamente no Lodeiro ocorreu um incêndio e os bombeiros quase, se não exclusivamente deram prioridade a uma propriedade deixando as restantes ao abandono ardendo assim uma habitação esta não era uma habitação antiga nem habitada, mas nesta propriedade existe uma antiga que por sorte não ardeu porque o proprietário lutou para que isso não acontece-se. Assim me perdoem se por vezes sou um pouco incrédula.
Em primeiro lugar convirá dizer que essa ajuda, em primeira instância, deverá vir das autarquias. Até porque a definição da aldeia como local de "VALOR PATRIMONIAL" consta do Plano Director Municipal, pelo que entendo que a crítica é endereçada sobretudo à Câmara Municipal (ou não será?). No entanto o que temos visto fazer por parte das autarquias? Quando algo é feito é apenas para destruir um pouco mais o que ainda resta (e poderemos citar muitos exemplos, que seria fastidioso e dispiciendo aqui agora frisar). Por outro lado, não me parece que haja qualquer "sorte" na obtenção dos contactos necessários para concretizar projectos na área do Turismo Rural. O que falta, essencialmente, é cultura, educação e formação... Vou dar outro exemplo, agora passado mesmo em Boassas. Aqui há uns anos fui contactado por uma pessoa que vivendo em Boassas, queria recuperar a sua habitação. Perguntava-me se haveria algum "apoio" para esse efeito. Disse-lhe que, que soubesse, infelizmente, a nível da autarquia não havia nada, mas que poderia recorrer à possibilidade do Turismo Rural. Recuperava a sua habitação com apoios comunitários e, ao fim de dez anos, se assim pretendesse, poderia cessar a actividade turística, havendo recuperado a habitação. A ideia teve aceitação e eu próprio fiz (A CUSTO ZERO) o projecto de pré-inscrição no turismo (levantamento fotográfico; localização e implantação do edifício; cartas topográficas; memória descritiva; requerimento; fichas de inscrição; etc...). A casa chegou a ser vistoriada pelos técnicos da Região de Turismo e a pré-inscrição foi aceite à primeira. Resultado: passado pouco tempo (sem que sequer me tivesse sido dada uma satisfação) a casa (de grande valor e interesse arquitectónico) foi arrasada até ao rés-do-chão! É assim!... Como se explica isto? É, óbviamente, um problema cultural. Não tenho dúvidas que valeu muito mais a opinião do "empreiteiro" do que a minha (imagino os "conhecimentos e prestígio" necessários para obter o parecer de um perito destes). Na realidade, neste caso concreto, não só a pessoa destruiu o património que tinha (e que com a aprovação para turismo havia sido valorizado várias vezes), como destruiu parte do património ad própria aldeia, assim como a possibilidade de ajudar a desenvolver a própria povoação e a comunidade. E não foi por falta de ajuda, apoio ou informação! Um dos problemas graves em Portugal é que toda a gente sabe de tudo, sobretudo de arquitectura!
Quanto à questão dos incêndios e da falta de meios para os combater, penso que é um outro assunto. Mas continuo a dizer que é também um problema de falta de ordenamento do território e que se houvesse um empenhamento tão grande em resolver o problema como houve em realizar o "festival de pontapé na bola" do ano passado, o problema estaria já mais que resolvido...
Eu não estou a criticar ninguem em concreto eu estou a falar no geral, e em relação à falta de cultura, educação e formação nem todos têm o previlégio de obter formação mas nem sempre ter formação é sinal de conhecimemto ou mesmo de educação. Eu tenho o previlégio de ter uns pais fantásticos que não têm formação mas que tudo fizeram para que eu a tivesse. E em relação à ajuda, apoio e informação nem sempre ela existe e por vezes recorrendo a certas instituições o pouco que nos fornecem parece tudo menos portugues. O futebol ou " festival de pontapé na bola" é um desporto pelo qual não nutro qualquer interesse e assim sendo não faço a minima ideia a que se refere. E em relação a arquitectura também não demonstrei qualquer conhecimento eu não tenho a presunção de saber tudo eu sou portuguesa mas existe alguns defeitos tipicamente portugueses que não adequeri. Agora uma coisa eu tenho é a teimosia e persistência. E fazer valer o meu direito de ter opinião é legítimo mesmo que ele não seja aceite por todos.
A "formação" de que falo é essencialmente aquela que se obtém em casa. Formação cultural e educacional. Não estou, óbviamente, a falar de graus académicos! O que quero dizer com o "festival de pontapé na bola" (vulgo Euro 2004) é que há uma questão de prioridades, porque não há dinheiro para tudo e o Estado Português prefere investir milhões a fazer estádios de futebol do que a cuidar da riqueza florestal e do património nacional. Quanto à questão da arquitectura, o que quero dizer é que é, no mínimo lamentável que exemplos notáveis do nosso património fiquem ao critério da opinião e intervenção de "pseudo-empreiteiros"... Por último, para finalizar, até porque acho que até estamos, no essencial, de acordo, a prova de que aceitamos a opinião dos outros é que os comentários aos artigos aqui estão, para TODOS poderem ler e comentar...
Fonix
Que pena as mãos desta ou deste "isostática", não estarem "estáticas". Poupavam a leitura de tantos disparates.
CARO ISOSTÁTICO
Penso que este seu último comentário padece de algumas, digamos, más interpretações, nomeadamente nos seguintes pontos:
1. Não se está a criticar a população natural de Boassas (até, porque a APOBO é integralmente constituída por naturais de Boassas e seus habitantes diários, que têm muito orgulho na sua aldeia e nas suas raízes...), mas sim, precisamente, a tentar ajudá-los. Por outro lado também, diga-se, mesmo que assim fosse, a crítica, desde que construtiva e educada só pode ser positiva... Também não é, ao contrário do que possa parecer, uma discussão pessoal. São problemas dos habitantes da aldeia, que exprimem, desta forma, aquilo que pensam e sentem... Ninguém é obrigado a ler!
2. O que nós dizemos é que a "escolha daquilo que cada um quer" e que tem grassado nas últimas três décadas, atirou a povoação para a situação em que se encontra, (a população residente é cerca de 10% da de há 30 anos; os terrenos encontram-se abandonados; os incêndios alastram; as pessoas vendem as suas valiosas casas e propriedades para trocar por miseráveis apartamentos de 5.ª categoria, mas mais próximos dos bens de consumo e serviços e endividam-se à banca...) por isso, não nos parece que seja modelo a seguir. Óbviamente, a sobrevivência daqueles que (ainda) vivem em Boassas depende dessa mudança e da ajuda que lhes possamos prestar.
3. As necessidades de cada um, dentro da aldeia, estão a ser avaliadas individualmente, pela APOBO, para que se possa ajudar as pessoas a melhorar as suas condições e a sua qualidade de vida. A solidariedade, nos tempos que correm é cada vez mais urgente e premente e por vezes o sofrimento não pode ser deixado com cada um...
4. Discordamos, plenamente, de que tenha sido a MISÉRIA a criar estas notáveis obras de arquitectura (que são alvo do interesse de todos quantos nos visitam...) à excepção de algumas. Mas, mesmo estas últimas podem ser recuperadas e valorizadas, como aliás (felizmente) já há alguns exemplos dentro da própria povoação. Parece-me muito negativo pensar-se que o que se constrói são "misérias" para daqui a uns anos demolir (cada um lá sabe onde vive...). Ainda há, felizmente, muita gente a viver em Boassas que aprecia e tem orgulho naquilo que lhe foi legado pelos seus pais, avós e bisavós... para além disso, essa afirmação pressupõe que a própria capela (de 1710), bem como muitas outras obras deveriam ser demolidas. (A propósito, aconselha-se uma visita urgente a qualquer uma das aldeias históricas...)
5. Não se trata aqui de "espartilhos". Até porque eles existem de qualquer forma. A casa retratada, de qualidade indubitável, foi construída sem projecto ou licença camarária pelos mestres da época, com os seus conhecimentos empíricos e cultura popular herdada de geração em geração. Aquilo que irão lá colocar será, como na generalidade dos casos, mais um "chorrilho de clichés e normas camarárias apresentados num "pseudo-projecto" desenhado pelo habilidoso da praça e executados, muito provavelmente, por um "trolha" que nunca houviu falar de cultura vernácula, ou popular, ou que, simplesmente se está a marimbar (desde que cante no bolso)...
6. A melhor forma de apoiar e ajudar a população da aldeia será integrar as suas colectividades, grupos e associações de desenvolvimento locais. Espero que seja o caso.
7. Claro que a arte popular não é estática e, tal como já referi, também há alguns (poucos) exemplos em Boassas de edifícios bem recuperados e que são a prova de que recuperação/restauro e qualidade e bem-estar não são antagónicos.
8. O turismo em Boassas (ao contrário de quase todas as outras actividades) cresce de dia para dia e óbviamente, todo o seu património, do qual a arquitectura vernácula faz parte, é uma mais valia para a aldeia e para os seus habitantes. Não os alertar e ajudar para que possam tirar partido disso seria, quanto a nós, um erro crasso. Pois é sabido que esta é uma oportunidade única para o seu futuro. Há que incentivar as pessoas a recuperar edifícios como o da imagem e ajudá-las a procurar forma de os aproveitar turísticamente, para que possam aumentar os seus rendimentos, criar postos de trabalho e ajudar a fixar a população na aldeia, sobretudo os mais jovens...
7. Aconselha-se, novamente, a leitura da CARTA INTERNACIONAL SOBRE O PATRIMÓNIO VERNÁCULO, publicada aqui no blogue (sei que o texto é um pouco longo, mas vale a pena...).
Para finalizar, gostaria apenas de pedir que sempre que deixassem qualquer mensagem se identificassem, ou deixassem uma forma de entrarmos em contacto, caso contrário não poderemos, como é óbvio, assegurar a participação nos comentários do blogue.
Como foi a 1º vez que escrevi no blog, não me apercebi da identificação. Peço desculpa. O penultimo comentário foi meu, Sofia Beça
Olá Sofia!
Não há que pedir desculpa. Compreendemos a dificuldade e agradecemos a participação. Esperamos que as pessoas compreendam que este é um espaço que se quer aberto e participativo e, por isso mesmo, gostaríamos que toda a gente se identificasse para que possa assim continuar.
Obrigado.
Esse "estático" deve ser um burro, pois pela maneira como fala, vê-se que não percebe nada de arquitectura. De arquitectura falam os arquitectos!
Por isso poupe-nos de tanta ignorância!
Ass: Arq. José Diogo
Caro Arq. José Diogo.
Aceitamos o direito à indignação mas, tal como já referimos anteriormente, este é um espaço aberto, para TODOS poderem participar, por isso apelo a que os comentário sejam feitos dentro de um registo de elevação e respeito, para que os mesmos possam ser publicados e a discussão proveitosa. Assim todos ganharemos e, seguramente, só assim se poderá construir algo positivo.
Obrigado.
Caro isostático exprimir opinão é um privilégio que todos nós temos, assim sendo, respeito todas as opiniões e faço questão que os outros respeitem as minhas. Porque isso é viver em democracia.
A repercussão que este artigo está a ter (bateu já todos os recordes de comentários, em qualquer artigo publicado, até agora) é bem a prova de que esta não é uma discussão pessoal e que, bem pelo contrário, está na ordem do dia e interessa à população de Boassas. Até ao momento, o nosso interesse em preservar a cultura genuína e autêntica dos habitantes de Boassas, da qual o exemplo da foto é mais um caso, apenas sai reforçado com a participação dos nossos leitores. Defendemos os nossos pontos de vista e explanamo-los, tendo por base as NORMAS e orientações sobre conservação de património nacionais e internacionais. Democraticamente aceitamos a opinião dos outros e por isso mesmo TODOS os comentários, independentemente do que revelam da formação, conhecimento e cultura, dos seus autores, têm sido aqui publicados. Só temos que agradecer a participação, porque assim é-nos facultada a possibilidade de expormos mais claramente os nossos ideais; a nossa maneira de pensar e agir. Assim sendo, o nosso muito obrigado.
Caro Isostático
Pela nossa parte não há consolo nenhum e, embora a compreendamos,lamentamos que tenha tomado esta atitude. Optamos por (ainda) não fazer censura e, tal como já afirmamos anteriormente, os comentários revelam a formação, conhecimento e cultura dos seus autores. É por isso mesmo que é pedido aos mesmos que se identifiquem. Tentamos, na medida do possível, esclarecer dúvidas, defender os nossos pontos de vista, argumentando e explicitando as nossas posições. Somos habitantes de Boassas e custa-nos imenso ver desaparecer a nossa memória e identidade com tem vindo a suceder. Por isso organizamo-nos (a APOBO tem, neste momento cerca de 100 associados - bem mais que os seus habitantes diários) e lutamos para defender aquela que é uma herança nossa. Tal como já dissemos atrás, agradecemos, óbviamente a sua a participação.
Até sempre.
Criticas construtivas e mesmo destrutivas têm o poder de fazer reflectir e por vezes melhorar algo que está mal. Por isso as criticas e conselhos têm sempre pontos positivos. Assim, todas as participações são importantes neste blog.
Enviar um comentário