sábado, dezembro 22, 2012

"Glosa de Natal"

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A estação dos Natais comercializados chegou. Para quase toda a gente - fora os miseráveis, o que faz muitas excepções - é uma paragem quente e clara no Inverno cinzento. Para a maioria dos celebrantes de hoje, a grande festa cristã fica limitada a dois grandes ritos: comprar, de maneira mais ou menos compulsiva, objectos úteis ou não, e empanturrar-se a si e às pessoas da sua intimidade, numa mistura indestrinçável de sentimentos em que entram igualmente a vontade de dar prazer, a ostentação e a necessidade de se divertir. E não esqueçamos os pinheiros, símbolos antiquíssimos que são da perenidade do mundo vegetal, sempre verdes, trazidos da floresta para acabarem morrendo ao calor dos fogões, e os teleféricos despejando esquiadores na neve inviolada.
Embora não sendo nem católica (excepto de nascimento e de tradição), nem protestante (excepto por algumas leituras e influências de alguns exemplos), nem mesmo cristã no sentido pleno do termo, nem por isso me sinto menos levada a celebrar esta festa tão rica de significados e seu cortejo de festas menores, o São Nicolau e a Santa Lúcia do Norte, a Candelária e os Reis. Mas limitemo-nos ao Natal, esta festa que é de nós todos. Trata-se de um nascimento, de um nascimento como todos deveriam ser, o de uma criança esperada com amor e respeito, trazendo em si a esperança do mundo. Trata-se dos pobres: uma velha balada francesa canta Maria e José procurando timidamente em Belém uma hospedaria para as suas posses, sempre desprezados em favor de clientes mais ricos e reluzentes e por fim insultados por um patrão que «detesta a pobralhada». É a festa dos homens de boa vontade, como dizia uma admirável fórmula que infelizmente já nem sempre se encontra nas versões modernas dos Evangelhos, desde a serva surda-muda dos cantos da Idade Média que ajudou Maria no parto até ao José aquecendo as fraldas do recém-nascido diante de um pequeno fogo, aos pastores cobertos de sebo mas julgados dignos da visita dos anjos. É a festa de uma raça tantas vezes desprezada e perseguida, porque é judeu o recém-nascido do grande mito cristão (falo de mito com respeito, e emprego a palavra no sentido dos etnólogos modernos, significando as grandes verdades que nos ultrapassam e de que precisamos para viver).
É a festa dos animais que participam no mistério sagrado desta noite, maravilhoso símbolo de que São Francisco e alguns outros santos sentiram a importância, mas que os cristãos comuns desprezam, não procurando neles inspiração. É a festa da comunidade humana, porque é, ou será dentro de dias, a dos três Reis cuja lenda quis que um fosse preto, alegoria viva de todas as raças da Terra levando ao menino a variedade dos seus dons. É a festa da alegria, mas também da dor, pois que a criança adorada será amanhã o Homem das Dores. É enfim a festa da própria Terra, que nos ícones da Europa de Leste vemos tantas vezes prosternada à entrada da gruta onde o Menino nasceu, a mesma Terra que na sua marcha atravessa neste momento o ponto do solstício de Inverno e nos arrasta a todos para a Primavera. Por esta razão, antes que a Igreja tivesse fixado o nascimento de cristo nesta data, ela era já, nos tempos antigos, a festa do Sol.
Parece que não é mau lembrar estas coisas que toda a gente sabe e que tantos esquecem.”

Marguerite Yourcenar em: “ O tempo esse grande escultor” - 1976

terça-feira, dezembro 18, 2012

Gonçalo Ribeiro Telles apelida de escândalo o desaparecimento da REN



 
O "pai" da Reserva Ecológica Nacional (REN) critica duramente o fim daquele regime de protecção ambiental. Em entrevista à Renascença, Gonçalo Ribeiro Telles apelida de escândalo o desaparecimento da REN, criada em 1983 num governo Aliança Democrática (AD).

“Porque é que mudaram de nome e onde é que está. É que mudaram para uma coisa que se escondeu. Uma coisa que era clara, que era objectiva, existia, agora deixou de existir e diz-se assim: ‘não, isso fugiu, escondeu-se em vários sítios’. Isto é um escândalo.”

O Governo quer condensar um conjunto de leis e acabar com a sobreposição de competências, mas Gonçalo Ribeiro Telles não se conforma e sugere uma conferência e um amplo debate sobre o assunto.

Quanto aos que criticam a Reserva Ecológica Nacional, o arquitecto paisagista fala num “conjunto de ignorantes, de incompetentes, de oportunistas e de pessoas com pouca ginástica mental”.

Gonçalo Ribeiro Telles, de 90 anos, deve participar esta sexta-feira na inauguração de um dos seus projectos mais emblemáticos em Lisboa, o chamado "Corredor Verde", percurso que liga o Parque Eduardo VII ao Parque Florestal de Monsanto, um projecto com 30 anos.

“É necessário que esse campo-cidade, como é o corredor para Monsanto, possa contribuir para a produção necessária à população urbana em horticultura, para a racionalização da circulação da água, para evitar grandes concentrações e inundações”, explica o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.

quinta-feira, novembro 01, 2012

A ceramista Emília Viana


Tempo de cinema...





















Há quanto tempo não íamos ao cinema!!... E valeu bem a pena ver este belíssimo filme dos realizadores do também muito bom "Persepolis". A não perder, pois... Belíssima história, boa realização, boas interpretações e...boa companhia :-)

sexta-feira, agosto 31, 2012

II Concurso Internacional de Fotografia de Boassas

Abaixo se anexa cópia da ficha de inscrição para os participantes no concurso que, por lapso, não tinha sido diponibilizada na mensagem anterior. Recordamos que o concurso, cujo tema é "Boassas, património rural e paisagístico", encontra-se aberto até ao último dia do ano. Estamos à espera das vossas fotos!!!... Boa sorte!...
 
 

sexta-feira, agosto 24, 2012

II Concurso de Fotografia . "Boassas. Património Rural e Paisagístico"

 
















A Associação Por Boassas decidiu na sua última reunião de direcção dar continuidade ao concurso de fotografia lançado no ano de 2006, cujo vencedor destacado foi o brilhante artista cinfanense Lourenço Pereira. O novo concurso tem normas idênticas às da primeira edição, mas prémios bem mais aliciantes e abaixo se publica o regulamento que tutela esta nova edição:
 
“Boassas . Património rural e paisagístico”

A Associação Por Boassas vai promover o seu II Concurso Internacional de Fotografia, subordinado ao tema «Boassas . Património rural e paisagístico».

O concurso visa a promoção e divulgação da aldeia de Boassas e zona envolvente, alertando e sensibilizando as pessoas para a importância da paisagem e dos valores patrimoniais da povoação e da área rural que a envolve, incentivando-as para sua conservação e preservação.

Ao propormos nesta 2.ª edição o tema «Boassas . Património rural e paisagístico» pretendemos sensibilizar para a necessidade de valorizar e preservar a paisagem e o património construído da aldeia, a qual se encontra classificada como “Aldeia de Portugal”, de forma a contribuir para o aumento do turismo e actividades que o possam complementar, gerando oportunidades de emprego e rentabilidade, perspectivando assim um futuro sustentável para os seus habitantes.

Regulamento

1. O II Concurso Internacional de fotografia, organizado pela Associação Por Boassas, é da responsabilidade da referida associação.

2. O concurso está aberto a todos os interessados, nacionais ou estrangeiros, à excepção dos membros do júri

3. O Júri deverá ser constituído por representantes da Câmara Municipal; da Junta de Freguesia e da Associação Por Boassas, pelo vencedor do concurso anterior e por profissional/artista reconhecido na área da fotografia.

4. As inscrições são gratuitas.

5. O concurso tem como tema: “Boassas . Património rural e paisagístico”

6. Cada concorrente pode apresentar a concurso o máximo de três fotos.

7. Todas as fotos apresentadas a concurso terão que ser inéditas.

8. As fotos, a cores ou a preto e branco, devem ter as seguintes dimensões:

       - Dimensão mínima: 20x30
       - Dimensão máxima: 30x40

Todas as fotografias devem ser montadas sobre base rígida, em janela de cartolina tipo “Bristol”, de modo a atingirem a dimensão de 40x50.

9. Cada trabalho deve conter no verso, em letra bem legível, o pseudónimo do concorrente e o título. As fotos a concurso devem ser acompanhadas da Ficha de Inscrição (ou fotocópia da mesma) devidamente preenchida.

10. a) Os trabalhos a concurso devem ser entregues em mão ou enviados pelo correio até ao dia 30 de Dezembro de 2012 (data de carimbo dos CTT), indicando no remetente apenas o pseudónimo, para:

II CONCURSO DE FOTOGRAFIA DA ASSOCIAÇÃO POR BOASSAS
CASA DO CERRADO, BOASSAS, OLIVEIRA DO DOURO
4690 – 405 CINFÃES

NOTA: A APOBO não se responsabiliza por quaisquer danos ou extravio dos trabalhos.

b) Conjuntamente com os trabalhos deve ser enviada uma carta fechada, contendo a Ficha de Inscrição e o pseudónimo (escrito em letra legível no exterior).

11. Será nomeado um júri para a selecção das provas e atribuição dos prémios, e das suas decisões, que ficarão lavradas em acta, não haverá recurso.

12. Prémios:

      1.º prémio: 600 €
      2.º prémio: 400 €
      3.º prémio: 200 €


13. O júri pode ainda atribuir Menções Honrosas em número indeterminado, as quais terão um valor de 50 €.

14. Todos os trabalhos premiados deverão ser publicados em forma de postal ilustrado.

15. O Júri pode deixar de conceder quaisquer prémios se entender que o nível dos trabalhos a concurso o não justifica.

16. Os autores dos trabalhos premiados serão avisados individualmente do prémio obtido e deverão receber o prémio aquando da inauguração da 1.ª exposição.

17. Os trabalhos premiados ficarão propriedade da Associação Por Boassas, que os poderá usar para fim de exposição, publicação em meios de comunicação, nos órgãos informativos e de divulgação da Associação por Boassas (APOBO) ou publicação de postais ilustrados, citando no entanto sempre o nome do autor e mantendo este os respectivos direitos.

18. Os restantes trabalhos serão devolvidos aos seus autores, desde que expressamente solicitado na ficha de inscrição. Para este efeito deve cada concorrente enviar a quantia de 5,00 € em cheque ou vale de correio.

19. Os trabalhos apresentados a concurso serão, no todo ou em parte, objecto de exposição(ões) organizadas pela Associação Por Boassas.

20. Os casos omissos neste regulamento serão resolvidos em definitivo pela Comissão Promotora.

21. A simples participação no Concurso implica a aceitação total do regulamento.



                                                  A direcção da APOBO
 

quarta-feira, julho 04, 2012

"Ruralidade é modernidade" (Aldeias de Portugal)


RURALIDADE É MODERNIDADE

Ser rural é ser simples, é transformar tempo perdido em tempo vivido!
É preterir filas de trânsito por passeios ao ar livre, é prescindir de filas para tudo e mais alguma coisa para ter tempo para tudo e mais alguma coisa!
Ser rural é trabalhar e ter tempo para continuar a estudar, é ter tempo para pensar e disponibilidade para amar!
Ser rural é preterir ar poluído por um respirar descontraído!
Ser rural é acordar no silêncio de pensamentos livres, é sair à rua que é nossa, é beber o café no alpendre ao som do silêncio de um livro, é receber visitas de portas abertas, é ouvir bater à porta e dizer "- Entre! Quem é?"
Ser rural é viver simples. É ser livre, ter família ali ao pé, é ser dono de nós próprios.

Paulo Costa in "Aldeias de Portugal"

(Foto do Largo da Roseira na "Aldeia de Portugal" que é Boassas)

terça-feira, julho 03, 2012

Sem planeamento...não há desenvolvimento!


O concelho de Cinfães é bem o retrato da realidade do país. Os recursos e belezas naturais são imensos, mas mal aproveitados, quando não são pura e simplesmente destruídos. Não há planeamento de espécie alguma. A construção é caótica e sujeita aos interesses particulares e especulativos. A paisagem é agredida constantemente por obras disparatadas, mal construídas, quando não clandestinas. As prioridades são dadas aos interesses comezinhos e de "clientela". Não há uma valorização nem gestão integrada dos espaços públicos. Da mesma forma o património não está salvaguardado, valorizado ou protegido. As prioridades são o entretenimento das "massas", o futebol, o arraial e o foguetório com que se ofuscam os olhos do povaréu que convém manter embrutecido e inculto!!!... O despovoamento do mundo rural é crescente, mas parece nem sequer ser um problema, pois as eleições ganham-se nos maiores centros urbanos!!!... Mas sem mundo rural não há país, ou território algum, que sobreviva. Não se gerem, nem aproveitam devidamente os recursos e os planos de gestão de ordenamento foram metidos na gaveta e só servem para os "papalvos" que teimam em cumprir. E com isto perdem-se as maiores fontes de riqueza e de futuro para as próprias pessoas... As florestas, a paisagem, os núcleos rurais e os espaços de cultivo que constituem a nossa maior riqueza são assim delapidados e o próprio turismo, comprometido. Para finalizar e apenas para que se tenha um pouco a noção de como o planeamento e ordenamento do território são importantes, faça-se uma comparação. Quais os países europeus mais desenvolvidos?... E quais o menos?... Quais os que têm melhor ordenamento do território e planeamento urbano?... Sinceramente, acham que é mero acaso???...

sábado, junho 16, 2012

Anedotário cinfanense (II) . Aldeias de Portugal

Hoje, a caminho de Boassas, por mera casualidade, sintonizei o aparelho do carro na Rádio Montemuro. O Presidente da câmara de Cinfães falava na classificação de uma aldeia do concelho com o epíteto de "Aldeia de Portugal". Ficamos curiosos. Boassas é, até à data, a única aldeia do concelho a merecer tal classificação, o que aconteceu já no ano de 2005, como aqui, nas páginas deste blogue, foi então noticiado. Mas não, não era de Boassas que se falava, mas sim de uma outra aldeia chamada Vale de Papas!... Bom...se as papas forem boas, e uma vez que os "tachos" também parecem não faltar, não nos admira que esta obtenha tal classificação! O que nos surpreende é que a determinada altura o Sr. Presidente tenha referido que "nesta região há já outras povoações com a classificação de Aldeia de Portugal" como por exemplo...(pasme-se!..) Campo Bemfeito" (!!!!!????). Ora Campo Bemfeito é uma aldeia do concelho de Castro Daire e não percebemos porque é que em vez de se mencionar Boassas se menciona uma aldeia do concelho vizinho!... Bom, até percebemos, claro, mas não nos podemos impedir de colocar algumas perguntas, nomeadamente:
1. O Sr. Presidente apoia a classificação de uma povoação a uma figura de que nem sequer sabe que já existe no seu próprio concelho uma outra com a mesma classificação?
2. Ou sabe e não quer mencionar?
3. E, se assim é, o que quer isso significar?
4. Será assim tão doloroso falar desta aldeia do seu próprio concelho que é Boassas, Sr. Presidente? Porquê?
5. Desde que Boassas foi classificada (em 2005, já fez sete anos!!!!), a Câmara Municipal de Cinfães nada fez, rigorosamente, em prol da aldeia, no entanto, para Vale de Papas assegura-se uma participação municipal no arranjo de "caminhos", "murinhos", "canastrinhos" e, claro, "bebedourinhos", já que as ditas "papas" terão que ser bem regadas, como convém!!!! É apenas retórica para enganar o papalvo ou serão apenas atitudes discriminatórias as que aqui se presenciam? Mas como "com papas e bolos..."
Enfim... Nada que nos surpreenda, e que já não nos faça rir, nesta república de anedota em que se transformou o nosso concelho.
Olha... Haja "papas"!!!!

(Para quem quiser ver a página das "ALDEIAS DE PORTUGAL" onde aparece Boassas, basta clicar AQUI ou nas palavras acima sublinhadas)

quarta-feira, maio 16, 2012

UNESCO vai mandar parar obras de construção da Barragem do Tua - País - Notícias - RTP

UNESCO vai mandar parar obras de construção da Barragem do Tua - País - Notícias - RTP

"O Comité do Património Mundial da UNESCO acusa as autoridades portuguesas de deslealdade por nunca terem referido a intenção de construir a Barragem do Tua no processo de candidatura do Douro a património mundial. Por isso, as obras de construção da barragem vão ter que parar."

"A notícia é avançada pelo jornal Público, que teve acesso ao projecto de decisão que contém várias exigências ao Estado português.

A UNESCO quer travar as obras e ir ao terreno fazer o levantamento do impacto das alterações que foram feitas ao projecto. A conservação da área classificada é uma das preocupações."

Rosa Azevedo

quarta-feira, maio 09, 2012

A Igreja românica da Ermida... um crime público!!!

Este vetusto templo foi o núcleo central da paróquia de S. Pedro da Ermida a partir dos fins do século XIII. Posteriormente foi Igreja Matriz do extinto concelho de Ferreiros de Tendais e sede paroquial da freguesia de Oliveira do Douro durante vários séculos. Apenas deixaria de funcionar como igreja em meados do século XX. É um templo de características românicas, cuja parte mais antiga aparenta ser a ábside e que M. Gonçalves da Costa refere como sendo "contemporâneo das origens cristãs na Península".
Hoje, para nossa tristeza (e vergonha), encontra-se completamente abandonado e a ameaçar ruína. O tecto da ábside já colapsou e algumas paredes começam a abrir brechas causadas pelas infiltrações... Num concelho que se diz pobre, a ignomínia de se poder dar ao luxo de deixar perder assim parte do seu mais importante património (e importante fonte de riqueza), parece-nos uma grave ofensa, sobretudo para com os seus habitantes e antepassados. E não nos venham com a desculpa de que não existe dinheiro para a sua recuperação, pois só o que se gasta em foguetes e outras imbecilidades que tais, daria para salvaguardar este e muitos outros monumentos!!!...

(Bibliografia consultada: "Boassas. Uma aldeia com história", Cerveira Pinto, Manuel, Edições Jornal Miradouro, Porto, 2008)

sábado, fevereiro 25, 2012

"Cântico Negro" de José Régio

Cântico Negro 

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
...
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

José Régio

(E aqui...dito pelo grande João Villaret: http://www2.mat.ua.pt/rosalia/caminhos/JRegio/cantico.wav)

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Ribeiro Telles - «O grande problema do país é a morte das aldeias»






 

Numa conversa que decorreu nos jardins da Fundação Calouste Gulbekian, o arquitecto paisagista falou sobre o país, os problemas de planeamento das grandes urbes, a desertificação das aldeias. Para o antigo ministro da Qualidade de Vida, os governantes conhecem mal o país, o território e, em especial, o mundo rural. «É preciso que os responsáveis pensem mais no país, menos nas finanças e reflictam na economia do planeamento para o desenvolvimento das gentes». De acordo com Gonçalo Ribeiro Telles há que recuperar a «autenticidade das coisas».

Ana Clara | quinta-feira, 23 de Fevereiro de 2012

Num momento em que Portugal vive uma crise económica e social, o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, que completa 90 anos em Maio deste ano, começa por dizer que o principal problema do país «é a falta de informação e a cultura das pessoas, transversal na sociedade portuguesa».

«Desde as camadas superiores, mais intelectualizadas até às mais profundas, de ligação à terra e aos lugares, essa falta de cultura continua à vista», argumenta, recordando que Portugal «vive uma crise de valores».

Refere que o fosso entre o Litoral e o Interior continua a aumentar. «A quem se deve o desaparecimento e a degradação das aldeias?», questiona, sublinhando, em seguida, que tal se deve «a toda uma política de organização do desenvolvimento planeada para a destruição do país e à preocupação em considerar a ruralidade como qualquer coisa do passado sem futuro».

«Criámos uma ruína. É preciso que os responsáveis pensem mais no país e menos nas finanças. Que reflictam mais na economia do planeamento para desenvolvimento das gentes, das potencialidades e da nossa posição quanto ao mundo», apela Gonçalo Ribeiro Telles.
E considera que «se estão a construir cidades só por construir e a criar não o vazio do espaço, mas o vazio do espaço construído». Sobre o interior, salienta que as aldeias «não podem despovoar-se como está a acontecer» e frisa que «dentro de pouco tempo, isto é um país de velhos, de asilos urbanos». Por isso defende que a recuperação das aldeias «tem de passar pelo restabelecimento da agricultura local».

E não tem dúvidas: «hoje, o grande problema do país é a morte das aldeias, que é também um problema de cidades».

E explica porquê: «o aglomerado urbano, que vive do abrigo, do encontro das pessoas, do tecto, do ambiente é a cidade. Mas isso também existe e tem de existir na aldeia. A dimensão é que é diferente. O que está aqui em causa não é a cidade, que dentro de pouco tempo terá 80% da população a viver nela. As aldeias não podem despovoar-se como está a acontecer».

O arquitecto recorda que com os actuais modelos de Planos Directores Municipais (PDM’s) não há recuperação urbana das aldeias para as pessoas mas apenas «a recuperação de algumas aldeias para o turismo».

«Mas não há turismo sem aldeões. Estamos completamente errados. A recuperação das aldeias passa pelo restabelecimento da agricultura local. E isso é o que não se quer», afirma.

Para Ribeiro Telles, o crescimento urbano deu-se baseado na ideia de um enriquecimento a curto prazo. «Ninguém apostou, por exemplo, na agricultura. E grande parte da industrialização deu-se também devido a isso. As políticas não eram autênticas em função das gentes. Onde é que está a funcionar a agricultura em termos nacionais? E o povoamento do território? Não está nem nos programas dos partidos nem dos governos. Tem apenas os limites de um jogo financeiro», frisa.

Para o arquitecto, o chamado «regresso à terra», «não é um regresso para férias nem para fazer agricultura de recreio», mas tem de ser uma «aposta no investimento das escolas, que estão a fechar, na circulação de todo o movimento que se tem de fazer em qualquer região».

Para isso, vinca, «é preciso criar gradualmente as condições. Se não for possível, temos o caos. Não conhece os subúrbios das cidades? Aí está o exemplo de caos», diz.

«Temos utilizado mal os nossos recursos»:
Sobre a Reserva Agrícola Nacional (RAN), a Reserva Ecológica Nacional (REN) e os PDM’s, que Ribeiro Telles impulsionou no início dos anos 80 do século passado, o também engenheiro agrónomo, realça que os dois primeiros diplomas «tiveram uma má aplicação, muitas vezes, por incompetência de quem fazia o planeamento e incompreendida pela maior parte dos autarcas, que não viam naqueles diplomas uma vitória eleitoral a curto prazo, em parte, pela pressão do investimento que os bancos realizavam para determinadas entidades, e deu no que deu».
«O mal está à vista. Continuamos a falar da floresta, da expansão urbana, do crescimento das cidades. Mas isso não se vê», salienta.

E prossegue, dizendo que «não há uma planificação global em face das possibilidades e virtudes do território. E não há povoamento».
Sobre a utilização dos PDM’s, Ribeiro Telles refere que estes instrumentos foram criados como «algo necessário para a defesa dos melhores solos agrícolas de que depende a existência do povoamento e a existência do país».

«Mas foi muito desvirtuada por muitos políticos e programas, porque não viam o essencial na autenticidade do país. Além disso, o PDM não servia a rápida expansão urbana nos sítios mais fáceis, mais planos e nos lugares mais urbanos», acrescenta.

A juntar a tudo isto, o arquitecto garante que «temos utilizado mal os nossos recursos». E os exemplos de má utilização são muitos, de norte a sul do país, e principalmente, «têm-se acelerado a má utilização dos recursos porque não se acredita nas «gentes», que estão – ou deviam estar – ao serviço da Humanidade e com uma identidade própria».

Recorda que «todas as coisas no nosso mundo têm uma autenticidade e que é sempre possível recuperar». «Uma coisa autêntica é aquela que tem um passado, que tem alicerces e que tem também um presente que se vê, que se sente. Não há presença nem autenticidade sem futuro», avisa.

E lembra que há três elementos fundamentais para os países, incluindo Portugal, se manterem como tal: «os lugares, as potencialidades e os recursos que nos dá a Terra-mãe e as suas gentes. Havendo estas três condições há lugar à autenticidade e à criação».

Recorde-se que o Centro Nacional de Cultura, que Gonçalo Ribeiro Telles ajudou a fundar, homenageou o arquitecto em Dezembro de 2011. À iniciativa que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, acorreram dezenas de figuras dos mais variados quadrantes da sociedade portuguesa. Destacaram o trabalho desenvolvido pelo arquitecto em várias áreas, nomeadamente nas questões do ordenamento do território e do uso da terra em Portugal.


Ana Clara | quinta-feira, 23 de Fevereiro de 2012, in Café Portugal

domingo, fevereiro 19, 2012

Património (destruído) de Boassas


Mais um exemplar da genuína e tradicional arquitectura popular de Boassas que desapareceu. Desta vez foi o edifício que vemos na imagem, no lugar do "Fornelo". Sem qualquer projecto, sem licença, sem aviso de obra... sem cumprir qualquer legislação ou regulamento e a ocupar parcialmente a via pública. Foi demolida, para dar lugar a uma "maison" construída por um qualquer "pato-bravo". Isto na única aldeia classificada do concelho (Aldeia de Portugal, desde 2005), designada no Plano Director Municipal como Local de Valor Patrimonial e a integrar o Plano de Salvaguarda das Albufeiras da Régua e Carrapatelo (POARC). Se for apresentado o devido projecto na câmara, impecavelmente elaborado, provavelmente "chumba" porque falta uma vírgula!!!!!... Depois queixam-se da "crise", da "economia"... e sabe-se lá do que mais... não se queixam é da corrupção!!!!!...

sábado, fevereiro 18, 2012

The National - Lucky You



Every time you get a drink
And every time you go to sleep
Are those dreams inside your head
Is there sunlight on your bed

And every time you're driving home
Way outside your safety zone
Wherever you will ever be
You're never getting rid of me

You own me
There's nothing you can do
You own me

You could have made a safer bet
But what you break is what you get
You wake up in the bed you make
I think you made a big mistake

You own me
There's nothing you can do
You own me
You own me
Lucky you
You own me
There's nothing you can do

You clean yourself to meet
The man who isn't me
You're putting on a shirt
A shirt i'll never see
The letter's in your coat
But no one's in your head
Cause you're too smart to remember
You're too smart
Lucky you

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Borboleta-azul ganha reserva protegida na Serra de Montemuro



Uma borboleta rara no nosso país e protegida a nível europeu, a borboleta azul, tem agora uma reserva em Portugal. A Quercus adquiriu um terreno de 3.500 metros quadrados, em Castro Daire, para preservar esta espécie que conta com a colaboração das formigas para sobreviver.

A nova micro-reserva está situada na Serra de Montemuro, no norte do país, onde foi recentemente identificada uma população da espécie, cuja ocorrência é muito rara em Portugal, sendo considerada uma espécie quase ameaçada de extinção.

A estratégia de sobrevivência da borboleta-azul é, talvez, a mais surpreendente de todas as 135 espécies de borboletas diurnas conhecidas em Portugal, segundo explica a Quercus em comunicado.

Quando os ovos destas borboletas eclodem dão origem a minúsculas lagartas que vão consumindo a cápsula floral durante duas ou três semanas. Depois, as lagartas deixam-se cair ao solo e esperam ser adoptadas por formigas do género Myrmica, que as irão transportar até ao formigueiro, pensando tratar-se de larvas de formiga perdidas.

Uma vez no formigueiro, as lagartas da borboleta-azul vão consumindo centenas de larvas de formiga, dando em troca uma substância açucarada ao formigueiro.

No ano seguinte ao da adopção, no Verão, dá-se o processo de transformação em crisálida, sendo que uma semana depois eclode a borboleta, que rapidamente procura uma saída do formigueiro, pois a química que iludiu as formigas deixa de funcionar e rapidamente passa a ser considerada um inimigo.

Os urzais-tojais e os cervunais, prioritários para a conservação da biodiversidade por parte da União Europeia, são os únicos habitats onde se encontra esta borboleta.

Em Portugal apenas são conhecidas populações da espécie no Parque Natural do Alvão e na Serra de Montemuro. Esta população da Serra de Montemuro, que vai agora ser objeto de proteção, foi descoberta pelo TAGIS – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal, organização com a qual a Quercus tem um protocolo de cooperação.

[Notícia sugerida por Vítor Fernandes e Maria de Sousa]


(In Boletim "Boas Notícias")