segunda-feira, outubro 19, 2009

O "crime" da Quinta do Paço





Este foi (mais) um dos exemplares de genuína arquitectura popular existentes na Quinta do Paço que desapareceu no incêndio que devastou a quinta no final do verão. Não foi notícia, conforme o próprio desaparecimento de praticamente toda a mancha florestal também não. Não houve jantares, nem conferências, para que os nossos tão atentos jornalistas tomassem conta do facto, como fizeram, por exemplo, com o protocolo celebrado entre a câmara e a empresa construtora encarregue de cimentar aquele espaço (facto muito mais importante, está bom de ver...). Já se sabe que neste país as notícias correm melhor quando são bem "regadas" e "acompanhadas" por um bom naco. Por outro lado, duvido que alguém na própria câmara municipal soubesse da existência deste edifício, onde se localizava, ou como se chamava. É assim o país que temos...(e não saímos disto!)

5 comentários:

Anónimo disse...

E vai ser pior, caro Manuel. Mais 5 anos de regabofe.

Associação Por Boassas disse...

Olá Nuno
Pois é!...Será que temos país que chegue para aguentar mais tanto tempo disto?
Obrigado pelo comentário e volte sempre

Sofia disse...

A quinta do Paço não ardeu!
Estive lá dia 25 de Dezembro e a floresta em sua volta estava um pouco diferente devido aos estragos causados pelo incêndio, mas a habitação, os lagares etc estavam intactos.

Associação Por Boassas disse...

Cara Sofia

Eu presenciei, in loco, o incêndio da Quinta do Paço. Vi arder as casas e a fantástica floresta, os terrenos agrícolas, a capela e o pinheiro multissecular, as casas de caseiro (entre as quais a que se encontra na foto que ilustra este artigo); o monumental eucalipto que pontuava a paisagem da quinta...e todo um património inestimável que a incúria e ignorância dos nosso "desgovernantes" propiciaram (pelo descuido, pela não vigilância, por dezenas de anos sem tratar daquele que é um património de toda a população do concelho e do País). Vir afirmar aqui, neste meu espaço, de forma tão leviana e inconsequente, que a quinta não ardeu, quando eu o vi com os meus próprios olhos, quando vi os aviões "canadair" a despejar toneladas de água (com o receio até de que o fogo chegasse à propriedade dos meus pais), tentando evitar aquilo que era já um desastre, só pode ser piada de mau gosto...
Transcrevo o que já disse no artigo anterior intitulado "O azar da Quinta do Paço"...Diz assim:
Também nasci numa aldeia perto da Quinta do Paço e esta foi, desde os primeiros dias da minha infância, um espaço que me habituei a percorrer e apreciar. Repito o que disse no meu artigo. Não acredito que haja alguém que conheça tão bem e possua tanta documentação sobre aquele espaço como eu. A quinta não é a casa!...Da Quinta do Paço da Serrana, que é um espaço de que tenho inventariado praticamente todo o património construído, o mais importante seria precisamente o espaço florestal, que estava até parcialmente classificado e para o qual pedi (como mencionado nos artigos - há que ler antes de botar faladura) a classificação total. Por outro lado, também as casas de caseiro, verdadeiros monumentos de arquitectura tradicional desapareceram praticamente todas e até a pequena capela e a sala de banho (a chamada casa chinesa) arderam...Afirmar que a quinta não ardeu só porque a casa principal ficou "apenas com as paredes exteriores chamuscadas" é o mesmo que querer tapar o sol com uma peneira. A quinta do Paço era um património vastíssimo que nem os próprios actuais locatários conhecem e cuja ignorância torpe nem sequer lhes permite saber o que fazer!!!...Esta é que é a (muito) triste realidade!
Muito obrigado por ter participado neste espaço e...volte sempre

Sofia Beça disse...

O comentário da Sofia é muito tipico português.
Desde que não arda a habitação, está tudo bem, não há drama.
Vemos os jornalistas fazerem reportagens dizendo isso mesmo - que ardeu apenas o mato e a floresta, mas felizmente não chegou ás habitações.
Enquanto as pessoas pensarem que património é aquilo que é construido pelo Homem, isto não mudará.
A Quinta do Paço, conforme o nome indica, é ou era, constituida pelas habitações de vários tipos e pela floresta. Desaparecendo uma destas, a quinta fica destruida.
Havendo registos de como eram as habitações, o arquitecto pode tentar recuperar o que foi sendo destruido, mas a floresta, sendo destruida já dificilmente tem recuperação.E se tiver, já não será para os olhos de nenhum de nós que por cá anda. Tardará gerações e mesmo assim nunca mais será a mesma.
Eu conheci a Quinta do Paço á 20 anos e tive a felicidade de dar muitos passeios pela quinta.A ultima vez que o fiz foi em 2004 e fiquei tão chocada com a degradação que nunca mais lá voltei. Preferi guardar boas memórias.